Bora elaborar um pensamento juntos, me segue aqui.
Ontem fui na rua do Por-do-sol, posto avançado da UnB na 408 Norte, e dei de cara com uma cena muito parecida com essa aí da foto. Uma galera, muita gente mesmo, aglomerada bebendo, conversando, rindo, em torno de vários carros tocando funk. Puxei papo numa rodinha e descobri: era encerramento de semestre na UnB e a galera subiu pra comemorar. Achei animado. Achei ousada essa ocupação a pé da cidade. Mas achei também aquela coisa que a gente acha quando não tem mais vinte anos (essa figura de linguagem se chama eufemismo): que a música é ruim, que a galera bebe muito e bebe mal, se coloca em risco – enfim, que eram jovens sendo jovens, aquela coisa toda linda e louca.
Só que eu, que estou naquelas de pensar todos os dias “cara, qqtácotecendo com o mundo?” não pude evitar de olhar para aquela aglomeração e pensar: imagina essa galera toda reivindicando direitos. Imagina toda essa bela juventude indo pra rua pra evitar a reforma trabalhista, que aniquilou com as chances deles de entrar num mercado de trabalho minimamente estruturado. Imagina eles indo agora pra rua se manifestar a respeito da reforma da Previdência, que pode riscar a palavra “aposentadoria” do vocabulário da geração deles. Imagina essa galera toda organizada dizendo que quer alguma coisa – qualquer coisa, de papel higiênico no banheiro da UnB (era uma demanda real na minha época) até a taxação de grandes fortunas. Imagina que louco seria.
Agora corta a cena. Amanhã acontece na Ceilândia a primeira edição da Virada Política Brasília, um evento que surgiu em São Paulo e hoje acontece em várias cidades. A ideia é reunir grupos e pessoas que estejam repensando as maneiras de fazer política. Grupos ligados a causas, e não a partidos. Gente de associações comunitárias, gente que exerce ou quer exercer a política com p maiúsculo – seja pra se mobilizar contra a proibição do aborto ou pra conseguir uma quadra esportiva no bairro onde mora. A Virada Política quer botar essa turma pra conversar e repensar a enrascada em que esse país se meteu.
Conheço a ideia só rapidamente, mas pelo que entendi, o evento promete romper bolhas: da geográfica – indo até Ceilândia pra incluir movimentos comunitários daquela região – à ideológica, admitindo grupos de esquerda e de direita, abraçando também essa turma da inovação política, essa nova política dos aplicativos de celular. Uma visão bem inclusiva e dialógica da política.
“Talvez tenha gente que deixe de ir porque vai ver um nome qualquer de quem ele discorda lá na programação, mas acho que se é pra de fato repensar o país, não dá pra ser diferente”, opina Pedro Santos, um dos organizadores.
Batendo papo com ele, bateu a dúvida que sempre bate: essa conversa de fortalecimento de grupos independentes, de discussão apartidária, esse papo meio anti-parlamento, anti-instituições, isso não resvala um pouco numa negação da democracia?
“O evento não acaba em si mesmo”, disse ele. “Todo mundo está insatisfeito, todo mundo precisa de um respiro pra parar e entender, pra lembrar que existe política olhando no olho. A sociedade se afastou muito do institucional e agora precisamos nos reorganizar para voltar ao institucional de um jeito diferente”.
Entendi algo como: já vai ser um enorme passo transformar a massa dos jovens de quinta-feira de apolítica em apartidária. Depois a gente vê como institucionaliza – até porque, pelo menos até agora, é nas instituições democráticas que as mudanças realmente acontecem.
Agora eu só penso nisso: imagina só aquela galera ali da primeira cena junto com essa galera da segunda cena. Imagina dar força política praquela energia toda. E me diz: imagina só que louco.
Foto postada pelo Jungle Bar na Calorada de agosto deste ano, um evento bem parecido com o de ontem.
Bora?
Virada Política
Sábado, 9/12
Das 13h às 18h
Escola Técnica de Ceilândia
QNN 14 Área Especial S/ Nº- Ceilândia Sul
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Maria Lucia de Oliveira
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Carolina Nogueira
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Heloisa Rocha
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Carolina Nogueira
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