1 mês sem facebook. O que aconteceu na minha vida

Em 03 de abril de 2017 por Dani Cronemberger

Nada. Nada aconteceu na minha vida. Nenhuma iluminação divina, não me tornei uma pessoa espiritualmente elevada ou especialmente melhor do que vocês, reles mortais que rolam o feed de notícias ad aeternum.

Mentira. Elevada e divina realmente não virei, mas alguma coisa pode ter acontecido, sim. A primeira é meio óbvia: é verdade que passo muito menos tempo olhando para o celular, e esse tempo foi preenchido automaticamente por outras coisas.

Que coisas? Meus bichos, meu amor, minhas séries e filmes, mas ainda não aquele livro que me prometi terminar de ler. Minha casa. É, acho que também passei a olhar mais a minha casa, meu jantar, o prato que eu como sozinha. Olho mais para o caminho, meus pés, o céu, o chão, as pessoas.

Mas você era viciada a esse ponto, não enxergava sua vida?, vocês devem estar pensando. Não é isso, mas eram minutos de olhar, às vezes muitos minutos, que definitivamente foram substituídos. E isso me fez bem.

Pausa aqui para outra explicação (lá vou eu pra defensiva). Este texto não é uma lição de moral no estilo “larguem o facebook e venham comigo viver a vida”. Se você for ao Google, vai ver que tá cheio de gente dando aula de vida saudável pós-facebook. Não teria essa cara-de-pau, até porque devo voltar pra lá em breve, assim que minhas mãos começarem a tremer.

Talvez este texto seja menos sobre o face e mais sobre a importância de se perceber e de entender seus limites. Eu me percebi soterrada com informações, negativas ou inúteis, sobre cada minúsculo pedaço do planeta Terra. No fim do ano passado escrevi sobre isso aqui e me fiz uma promessa de Ano Novo, que estou tentando cumprir.

Meu pequeno detox virtual faz parte disso, então. De perceber a hora de dar um tempo. E dar um tempo pode ser de qualquer coisa, comportamento ou pessoa. Andamos tão distraídos, acumulando atividades e responsabilidades sem fim, que não sobra tempo pra se enxergar e parar. Parar pra começar algo diferente.

Ao longo deste mês, fiquei feliz de ter ido a uma passeata na vida real, em vez de me contentar em confirmar minha falsa presença no evento do face. Confesso que a ignorância sobre a opinião diária de centenas de pessoas – conhecidas, pouco conhecidas e totalmente desconhecidas – também alegrou meus dias. Os efeitos na minha concentração e no meu estado de espírito foram ficando claros.

Senti falta dos posts engraçados, informativos e de cultura inútil dos meus amigos, é verdade. É como se eu estivesse perdendo uma festa incrível toda semana, não que isso seja novidade na minha vida. Mas tem sido bom parar. E já que não pude escrever um textão no facebook sobre isso, vim aqui pra suprir minha necessidade de falar e ser ouvida.

Outra questão a ser trabalhada, inclusive: com que razão, me digam, a gente precisa se expressar o tempo inteiro para o outro? O que de tão importante temos a dizer que vale ser dito, mostrado, comentado e curtido tão frequentemente? Quando a gente se acostuma a essa avalanche de expressões e falas, tentamos acompanhar e desistimos de ouvir. Mas essa aí é outra questão. Vou deixar pra minha próxima promessa de Ano Novo.