Botox ou acupuntura estética – uma questão ideológica

Em 27 de abril de 2018 por Lara Haje

 

Poucos meses depois que fiz 40 anos, fui chamada de coroa por outra mulher, em um contexto de competitividade feminina, de um machismo arraigado escondido dentro de nós de que a Dani já falou aqui.

Aquilo reverberou em mim com força. Não apenas por ir contra muitas coisas que defendo, como aliança e acolhimento entre mulheres, mas também porque conversou com algum incômodo dentro de mim.

Sim, talvez eu seja coroa – pessoa com sinais visíveis de envelhecimento. Já tenho cabelos brancos e rugas. Adolescentes de 15 anos transitam na minha casa me chamando de tia. Olho minhas fotos de alguns anos atrás e me acho muito mais bonita antes. Sim, tive que admitir para mim mesma que, apesar de me sentir muito melhor hoje em diversos aspectos psicológicos, de gostar mais de quem eu sou hoje, de saber que os 40 te trazem a liberdade de escrever, por exemplo, sobre botox; apesar de tudo isso, os efeitos físicos do envelhecimento não são banais para mim, como eu gostaria que fossem.

Pode parecer uma questão fútil para quem ainda não chegou lá ou para mulheres incríveis que já atingiram o nirvana. Mas o fato é que tenho ouvido muitas mulheres da minha faixa etária conversando sobre o assunto envelhecimento, mesmo quem contesta a pressão social para sermos supermulheres e mesmo quem tem plena consciência de todo o machismo envolvido na avaliação da aparência das mulheres (vamos fazer um resumo simplista desta questão assim: as rugas ou a barriguinha de um homem de 40 não são vistas da mesma maneira que na mulher da mesma idade).

O incômodo pode ficar um pouco maior se grande parte das mulheres à sua volta aplicarem botox na testa, ácido para preenchimento do bigode chinês (linhas ao lado da boca) etc. Se você olhar fotos suas ao lado dessas amigas, então – o resultado nas fotos é quase sempre incrível, embora na vida real, às vezes um pouco artificial – talvez marque uma consulta no dermatologista amanhã. É muito difícil não embarcar na onda de aceitar o que a tecnologia oferece, seja em que área for.

Entendo plenamente quem faz esta opção no campo estético. Se algo está incomodando muito, correr para aproveitar os benefícios da ciência pode parecer o caminho óbvio. Talvez daqui a um ano eu mude de ideia e esteja fazendo aqui um post sobre lugares para aplicar botox (ou comece a aplicar escondido). Mas, por ora, em especial depois de assistir a alguns vídeos no Youtube (aqui e aqui), decidi que esta não seria minha opção. É quase uma decisão ideológica.

Decidi que não quero ser escrava dessas substâncias, pois sei que, se deixar de reaplicá-las, o envelhecimento vai vir com força. Decidi que quero que minha beleza seja fruto de um cuidado geral com meu corpo/mente: quero estar com a expressão suavizada, mas que isso seja o resultado de uma mente mais calma; quero estar com a aparência descansada, mas que seja por conseguir dormir melhor; quero ser uma velhinha cheia de vigor, com um corpo forte, como vejo algumas incríveis professoras de yoga por aí, mas que isso venha de um trabalho integral com o corpo e que esse trabalho seja prazeroso.

Se essa também é sua opção, recomendo a acupuntura estética. Estou fazendo com a Ieri Luna, que estudou medicina chinesa em Barcelona e depois fez alguns cursos de acupuntura estética, e é muito estudiosa e cuidadosa no trabalho. O mínimo que ela recomenda são seis sessões. Depois de quatro, ninguém me disse que eu estava aparentando 20 e poucos anos, mas três amigas próximas e observadoras me perguntaram o que eu estava fazendo no rosto. Senti diferença especialmente na ruga entre as sobrancelhas.

Mas o que me deixou mais feliz com as sessões de acupuntura foi ter começado a dormir melhor. Eu estava há um tempo dormindo apenas cerca de seis horas por noite em geral (talvez outro efeito da “coroice”) e, depois da acupuntura, voltei a dormir sete horas. Corpo mais descansado, rosto mais descansado, mente mais descansada – o tal do cuidado integral de que estava falando.

Ieri me aconselhou também pelo menos duas sessões com o Dermaroller ou Dermapen – aparelhinhos que aplicam várias agulhas ao mesmo tempo -, que quero fazer em seguida. Uma conhecida fez com o Marcelo Sartório, outro acupunturista excelente, e achei visível a diferença. O rosto dela realmente deu uma rejuvenescida sem ficar artificial. Foi o Sartório, que estudou acupuntura na China, que uma vez me disse que não adiantava fazer procedimentos para o rosto e não dormir.

Na internet, é possível achar ainda um monte de exercícios para o rosto, que também não vão operar milagres. Mas, sabe, embora ache linda e chique uma cara de poker, com emoções indefinidas, esta não sou eu, uma pessoa de emoções transbordantes, de muito choro e muito riso, com bigode chinês, ruguinhas ao lado dos olhos e tudo mais.

Bora?

Ieri Luna
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Marcelo Sartório
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