Texto – Lara Haje, convidada especial do Quadrado <3
Tinha sido uma semana especialmente difícil para mim – energia pesada no trabalho, insônia – e eu cheguei ao Espaço Moulage no fim da tarde de sexta-feira assim: morta de cansaço. Minha vida, assim como a de quase todas as mulheres que eu conheço, especialmente aquelas com filhos, tem sido parecida com uma gincana, com tantas tarefas a cumprir, que muitas vezes a gente encara até os compromissos de lazer como mais uma etapa dessa gincana. Eu havia comprado uma hora de aula de costura no Moulage durante o evento de arrecadação de recursos para o filme Em Defesa da Família, e, apesar do cansaço, fui lá fazer a aula que já havia marcado dias antes. Minha primeira aula de costura da vida. Ou melhor, segunda, depois de ter aprendido a pregar botões com a minha mãe na adolescência.
Só que essa etapa da gincana eu não cumpri fácil nem rapidamente. Pedal, volante, alavanca de retrocesso, alavanca para subir e descer a agulha: eram partes demais para eu lidar ao mesmo tempo e, por diversas vezes, me esqueci de alguma delas e errei em exercícios primários de costura. A linha reta saiu torta. Eu pisava forte demais no pedal e passava do ponto onde tinha que terminar a costura. Me esquecia de coisas básicas, como descer a alavanca para fincar a agulha no tecido. A Rosa Cordeiro, uma das donas do espaço, me falava: é como dirigir, parecem muitas tarefas ao mesmo tempo, mas depois você as faz de forma automática, facilmente. Mas me lembrei de que, eu, quando comecei a dirigir, bati o carro inúmeras vezes.
Foi assim que, no meio da aula de costura, eu descobri: eu não estou presente. É por isso que sou um absoluto desastre em tarefas manuais. Se tenho um forte poder de concentração para tarefas mentais, como ler e escrever, minha capacidade de desligar a mente e me focar em minhas mãos é pífia. Não cozinho, não costuro, não planto, não pinto, não desenho. Assim como tantas outras mulheres de minha geração, me concentrei na carreira profissional, me foquei em desenvolver minha capacidade mental. E acabamos, muitas de nós, deixando toda uma parte de nós de lado. A desenvolver. Uma parte importante, que pode nos ajudar justamente naquilo que às vezes parece impossível: desligar a mente.
“Tudo bem errar”, disse a Rosa. Ela desfez calmamente as costuras que eu tinha errado, para eu refazer, ligou uma playlist de rock, puxou um banquinho, sentou ao meu lado e batemos papos ótimos. “A gente quer que as pessoas sejam felizes aqui”, ela ressaltou. E me contou que mulheres chegavam para a aula semanal com um garrafa de vinho, jogavam conversa fora, riam um monte. Sem metas ou prazos a cumprir.
Eu mesma, no meio daquele bate papo com a Rosa, me esqueci do tempo, me esqueci de que aquela não era a última tarefa da minha gincana aquele dia, relaxei. Nesse estado, mais presente, consegui até me focar nas minhas mãos e terminar uma pequena necessaire que a Rosa havia me proposto fazer e que no início da aula me parecia uma possibilidade distante. Só que uma hora de aula virou duas – tempo que a Rosa me deu com a maior calma do mundo, como se não houvesse um mundo lá fora nos esperando.
A Rosa, publicitária em ritmo frenético durante vinte anos, desacelerou a própria vida há dez meses, quando resolveu mudar seu rumo profissional e se associar à Andrea Patsch no Moulage, após seis meses fazendo aula no espaço. Formada em artes cênicas e moda, a Andrea já mantém o ateliê e dá aula de costura há seis anos, além de ser uma premiada figurinista de teatro e cinema. A parceria das duas deu dão certo que elas mudaram, em julho, para um espaço maior, na 110 norte, que chamam de “o novo Moulage”. É um espaço lindo e acolhedor, além de fresquinho (informação importante nesses dias).
O esquema lá costuma ser assim: três horas de aula, uma vez por semana, em turmas de até dez pessoas. Eu disse pessoas, e não mulheres, ouviram bem? Cinco por cento dos alunos já são homens e eles são muito bem-vindos. As donas do espaço contam que já teve até casal que foi lá fazer curso juntos! Além dessas aulas regulares durante o semestre, elas dão cursos pontuais, principalmente em períodos usuais de férias, como julho, dezembro e janeiro. Em julho, já rolou colônia de férias de costura para crianças.
O espaço também está aberto para eventos específicos. Outro dia vi no Instagram uma foto de um grupo de amigas que foi ao Moulage comemorar o aniversário de uma delas e, olha, elas pareciam bem felizes. Elas passaram a tarde de sábado produzindo cada uma sua própria bolsa, conversando e bebendo espumante, com ar condicionado geladinho (estou fixada neste ponto específico né?). Altas da gincana da vida, uma tarde inteira com amigas, uma bolsa nova, bebida gelada, desacelerar a mente: fiquei bem a fim. Espaço Moulage, volto logo!
Bora?
Espaço Moulage
SCLN 110 bloco A sala 101
3349-1169 / 8478-8272 / 9802-8778
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