O poder da sua turma

Em 05 de dezembro de 2016 por Carolina Nogueira

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Acordei otimista. Ao contrário de muitas outras precedentes, essa segunda-feira me encontrou cheia de energia. Acreditando.

Foi certamente a coluna da Eliane Brum que eu li outro dia. Foi essa frase incrível que eu li no instagram. Foi um banho de arte – a arte possível, a criação de gente como eu e você colocando a boca no trombone – no final de semana. Coroado com a frase linda do Ferreira Gullar na manhã de hoje: “a arte existe porque a vida não basta”. E como resultado dessa equação complexa, vim aqui te dar uma missão pro seu ano novo: encontre a sua turma. E crie.

Sábado fui num show político como há muito tempo não ia. Como há muito tempo tenho desejado, ansiado, me perguntando: toda crise cria sua voz de protesto, cadê a nossa?

Tatá e Danú são a nossa. São samba muito bom e malemolente, samba de letra boa e mobilizante (há quanto tempo você não ouve uma música autoral brasiliense que te chacoalha pelas letras?!) – e são as comandantes de um show rico, pulsante, alegre, cheio de energia. Sim, teve Fora Temer, mas sinceramente teve muito mais, porque a gente já entendeu que não é só isso que falta.

Num momento do show, a Danú (eu acho) falou uma frase que está ecoando na minha cabeça desde então: vamos organizar nossa raiva e celebrar nossa alegria. É isso: organizar a raiva, cara. E celebrar o poder transformador da alegria – porque a alegria é uma revolução. É a melhor e mais linda revolução.

Meu final de semana transformador e otimista continuou com o espetáculo das minhas sobrinhas no Empório Cultural – uma escola de espetáculos musicais, com dança, canto e teatro integrados, que definitivamente vale a sua visita. É claro que o espetáculo era tão das minhas sobrinhas quanto de todas aquelas outras crianças, jovens e adultos e suas respectivas famílias que lotaram as quatro sessões do teatro na Unip pra ver o resultado de seis meses de trabalho.

E o resultado de seis meses de trabalho foram canções lindamente interpretadas em coreografias lindas e alegres que me chegaram aos olhos em mensagens de esperança sobre os tempos que vivemos.

Meninos de hoje dançam sapateado sem medo do preconceito. Meninas gordinhas são a estrela principal de um musical – empoderadas, fortes e decididas lá na frente do palco, e não escondidas quase nas coxias. Garotas negras dançam balé com seus cabelos livres ao vento.

É 2017, quase, camaradas. As pessoas estão fora de seus armários. As pessoas que fazem arte se amam e estão ali se divertindo com todas as letras, todas as danças, todas as músicas, pro bem delas mesmas e da humanidade. Eu chorei, confesso. Chorei numa coreografia alegre de Tarzan – não pela música ou pela peça, mas pelas pessoas que eu estava vendo ali em cima do palco.

Por isso, é a minha mensagem deste final de ano: encontre sua turma. Vá rir, vá criar, vá fazer arte. Vá encontrar sua maneira de gritar sua mensagem pro mundo. É pra isso que a gente está aqui. Só a vida não basta.

  • Carol Velho

    Carol, xará! Texto que mexe com quem vive em Brasília e ama a cidade.
    Eu já tive crise com Brasilia, mas nunca duvidei da poesia que aqui vive.
    A arte faz a gente ser quem a gente é, e minha turma eu já achei! Tá tá e Danú fazem parte!
    Obrigada pelo texto.
    A frase da Danú é forte e ecoa mesmo dentro da gente!
    Bjs

  • Adriana Ramos

    Ótimo texto, e o show de Tatá e Danú foi incrível, que venham outros!

  • Débora Cronemberger

    Texto mais lindo do mundo, Carol. Obrigada por essa beleza.