Você é livre no espaço público. E ele é seu.
Em 08 de novembro de 2016 por Carolina Nogueira
Quero te pedir pra se lembrar disso da próxima vez que alguém te disser que não pode brincar de quatro cantos com seu filho nas pilastras do seu prédio. Quando alguém te mandar ir conversar em outro lugar, e não no pilotis. Quando te disserem que você não pode fotografar uma fachada. É triste, mas isso já aconteceu comigo e com amigos meus.
Vocês sabem que o amor pelo espaço público brasiliense é uma das maiores forças deste site, desde que ele existe. É um objetivo, um objeto de luta. Recentemente, com tantos coletivos trabalhando pela ocupação de espaços como o Conic e o Setor Comercial Sul, confesso que minha cabeça tem estado bem orientada pra esses espaços incríveis, lindamente urbanos e subutilizados da cidade. Quando penso em ocupação de espaço público, quase imediatamente penso nos incríveis cenários de festas, de sambas, de passeios, que estamos transformando nessa cidade.
Mas ontem tive uma conversa incrível com o Breno que levantou uns disjuntores mentais que tinham curto-circuitado recentemente: espaço público não é só isso. Nosso espaço de luta é bem mais amplo.
O Breno, que é arquiteto e entende de patrimônio, me lembrou o que eu já sabia: o pilotis é público, meus amigos. Cada pilotis dessa cidade é meu e é seu, foi feito pra mim e pra você. Cada acesso público a esses pilotis, cada acesso franco, aberto, livre de cerca, é nosso direito. Não é só de quem mora no prédio, não. Não é só de quem mora no Plano, não. É de todo mundo, é público no sentido mais bonito da palavra.
A gente não pode e não deve acatar esse abuso dessas convenções de condomínio que querem nos impedir de brincar, de conversar, de existir e ser feliz debaixo dos nossos blocos. Com respeito, claro – mas isso está subentendido, todo grande direito como pressupõe o grande dever natural e inerente da civilidade.
Sabe? “Debaixo do bloco” e “Fulanooooo, desceeee!”, são expressões tipicamente brasilienses que estão perdendo o sentido, abafadas por convenções de condomínio que não são só arbitrárias: são ilegais. A gente precisa se lembrar disso.
Se lembrar também que é igualmente espaço público – meu, seu, dos nossos filhos – o Espaço Cultural 508, que está fechado, o Teatro Nacional, que está fechado, o Museu de Arte de Brasília, que está fechado, a Biblioteca Demonstrativa, que está fechada. É tudo nosso, a gente tem direito a isso. E tem essa coisa toda de crise financeira, mas, olha: está cheio de coletivo de arte aí querendo fazer as coisas. Governo de Brasília, ponha a mão na consciência e encontre uma maneira criativa de botar esse povo pra ocupar esses espaços.
Essa cidade é gostosa demais pra gente deixar ela ficar amarga.
Bora, gente. E bora todos os dias, em todo microcantinho por onde a gente andar.
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Marcelo HKono
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Isabella Almeida
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buenasdicas
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Cristiano Sousa