As reformas que deformam Brasília

Em 04 de dezembro de 2012 por Dani Cronemberger

reforma

Ontem uma foto no facebook me deu um arrepio na espinha. Um amigo postou sua indignação, que virou minha e de todo mundo: o bloco D da 308 sul, quadra modelo de Brasília, era mais uma vítima de reforma e os azulejos geométricos, parte da personalidade da quadra e da história da cidade, estavam sendo destruídos. Horror total.

Corri lá depois do almoço, pra me chocar pessoalmente, e o mestre de obras jurou com os pés juntos: os azulejos seriam trocados por outros idênticos, que o condomínio já havia encomendado. Suspiro de alívio, mas… peraí: e tinha que destruir os originais? O prédio precisava de um engenheiro, mas não de um restaurador? A julgar por um prédio já reformado na 308, em frente a um jardim do Burle Marx, o azulejo pode parecer igual, mas o resto… Um desalento.

O que acontece em Brasília é que, aos 52 anos, a cidade passa pela primeira leva de reforma nos blocos do Plano Piloto, a título de conservação – mas deveria se chamar depredação. É um festival de criatividade dos condomínios que, ao invés de respeitar a arquitetura e a história da cidade, resolvem embelezar as fachadas de acordo com o padrão estético do síndico. E haja granito, haja blindex, haja porcelanato. Alguns resolveram fazer grafismo na lateral dos blocos.

Essa história acabou me fazendo descobrir algumas coisas interessantes: uma é que os azulejos da 308 sul não são do Athos Bulcão, como eu sempre acreditei (informação dada pela Fundação Athos). Outra é que a quadra modelo – assim definida porque serve de referência urbanística e arquitetônica pra cidade – é duplamente tombada.

Além do tombamento do Iphan, que abarca o Plano Piloto inteiro e regiões próximas, a quadra é tombada pelo GDF desde 2009, junto com a 107, a 108 e a 307 sul, a biblioteca, o Clube Vizinhança, o Cine Brasília e até o posto policial. Nessa área, além do governo federal (por meio do Iphan), o GDF também se responsabiliza por fiscalizar e preservar as “características fundamentais que singularizam Brasília”, como diz o decreto do ex-governador Arruda.

O que acontece na prática? Segundo a Secretaria de Cultura do DF, quando um condomínio dessa área resolve fazer uma reforma, ele deve pedir um alvará à Administração Regional de Brasília, que, se achar necessário, consulta a Subsecretaria do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural. O que aconteceu no caso do bloco D da 308? A administração regional não achou necessário consultar a subsecretaria sobre uma reforma numa quadra duplamente tombada. Ah, tá.

E com essa cultura de não consultar os órgãos de patrimônio histórico, Brasília vai se descaracterizando e, pior, por decisão dos seus moradores. Claro que a culpa não é só dos síndicos, nem de quem mora nos prédios. A gente tem dois problemas maiores:

1. Falta fiscalização, do GDF e do Iphan, na parte que lhes cabe. Há um tempo, reinava a ideia de que o tombamento do Iphan era só “volumétrico”, ou seja: se não alterasse a forma dos edifícios, tudo bem. Hoje, a visão da direção do órgão é outra: Brasília inteira é tombada, inclusive seus edifícios, e o Iphan pode sim embargar uma reforma ou multar um condomínio caso a intervenção esteja fora das normas do tombamento. Mas sabe quantos técnicos o Iphan tem pra fazer essa fiscalização? Três. Isso agora, porque há três meses era só um fiscal.

2. Falta educação. “O Estado tem dificuldades para implementar, de maneira eficiente e generalizada, a educação patrimonial. No momento em que a pessoa entende a importância de preservar a estética e a história da cidade, ela mesmo toma a frente e não aceita a descaracterização”, disse o coordenador técnico da Superintendência do Iphan no DF, Thiago Perpétuo, numa conversa com o blog.

Agora, me pergunto: alguém aí no Estado, esse com E maiúsculo, vai se preocupar com isso? Que tipo de relação a gente vai ter com a cidade – ela vai ser afetiva, vai ter memória, história? Que identidade Brasília vai ter no futuro? Hoje, olhando em volta, dá tristeza. Porque não só o Estado, que não investe e não prioriza, mas a imprensa local e o brasiliense também parecem não se importar.

Bora?
Denuncie absurdos para:
* Iphan – Superintendência do DF
2024-6456
* GDF – Subsecretaria do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural
3325-6157 / 3325-6269
* Ministério Público – Ofício de Patrimônio Público
Núcleo de Atendimento ao Cidadão – 3313-5525 / 3313-5640

E se o assunto for reforma, respire fundo e participe da reunião de condomínio.

* Texto atualizado às 11h47.

  • André Costa

    Dani,
    está sabendo que a obra já foi embargada? Um colega me informou pelo FB.
    Se tiver sido efeito de nossas denuncias, podiamos transformar essa açao coletiva em algo mais frequente, ne?
    Andre

    • André, desculpa demorar tanto pra te responder, mas fiquei fora do ar essas semanas, uma correria só. No dia que vc mandou a msg, tentei confirmar isso com o Iphan mas não recebi retorno de lá, acabei não tendo tempo de insistir. Mas olha, essa ação coletiva é bem-vinda a qualquer momento. Beijo

  • Ráffila

    Na quadra 213 sul comercial construiram um prédio esse ano. Tipo um prédio inteiro no final da comercial todo modernoso que nem se parece com os outros e ainda está para alugar é uma coisa horrenda e não tem nem de longe a cara de Brasília até onde eu sei isso não deveria ter acontecido. Como saber se o prédio é legal ou não? Será que se o governo der autorização algo assim pode mesmo acontecer? Não sei direito, mas quem quiser ver passa lá pra conferir. Adorei post.

    • Oi Ráffila, você pode denunciar o caso pro Iphan e pedir uma fiscalização, tem o telefone no final do texto. 🙂 abraço e desculpa a demora da reposta

      • Ráffila

        Tudo bem. Obrigada, vou ligar sim.

  • André Saraiva

    Ótima a matéria. A despreocupação com a preservação do patrimônio é notória, tanto da parte dos síndicos, quanto dos moradores, quanto do GDF (neste, noutro, em todos os governos de que me lembro) e, no que se refere ao IPHAN, arriscaria dizer que, seja lá qual for o motivo, é bastante pontual. Da parte das pessoas, com raras exceções, adota-se a portura – mesmo que inconsciente – do “o que é público não é de ninguém”. Contanto que dentro do meu carro e da minha casa esteja tudo de acordo com o que eu entendo por ser o melhor para mim, que se dane o resto. Estão aí os pavorosos muros dos condomínios da Avenida do Sol para exemplificar a atitude. Da mesma forma, o cercamento dos blocos no Plano Piloto (algumas vezes disfarçados de cerca viva baixinha, toldos (que podem ser recolhidos!!!!), janelas abertas de qualquer jeito em prédios que sequer comportam estruturalmente esse tipo de inverveção (vide matéria recente do Correio) etc. As adequações, eventualmente necessárias pois, é claro, os tempos mudam, não são monitoradas e fiscalizadas por ninguém. Pode-se colocar grade em janelas nos blocos JK das 400 sul? Se o poder público disser que sim, deve fazê-lo já indicando qual o padrão a ser adotado. Com o passar do tempo, além da cidade adotar uma estética bizarra, cada um acaba tendo algum tipo de razão que entende por ser legítima. “A segurança”, “o outro fez”, “o governo não tem como ficalizar”, “não há dinheiro”, “os blocos JK são inabitáveis” etc. Ao fim pesa muito a “minha necessidade”, que sempre deve prevalecer em detrimento da dos outros, juntamente com a inação do Estado. Acho inclusive que esse olhar para a cidade (de atenção e cuidado com ela) deve se estender para além da preservação da memória arquitetônica e urbanística. Hoje, além do GDF não manter serviços mínimos de manutenção e monitoramento da cidade, as novas intervenções são assustadoras, pontuais e mal executadas (vide esparsas novas calçadas financiadas pelo PAC da Mobilidade que se vê pelo Plano Piloto, verdadeiras ilhas de uma tentativa tosca de garantir mobilidade urbana e vide a “ciclovia”, que é descontínua, com largura inadequada e que serve de calçada onde antes não havia.). Se você transitar pela maior parte do Plano Piloto verá uma mistura de calçadas absolutamente intransitáveis – quando existem, lixeiras abarrotadas transbordando lixo – porque se há coleta deve ser bissexta, inadequação do sistema de escoamento de águas pluviais (o ponto de ônibus da plataforma superior da Rodoviária, que recentemente passou por uma longa reforma, obriga seus usuários a quase subir na mureta atrás do ponto para não ser encharcado pelo próprio transporte que ele está esperando), placas destruídas, inexistência de sinalização, pintura de asfalto etc. É a feiura que as fotos aéreas de Brasília não mostram e com a qual, ao que parece, não nos importamos.

  • Gomes

    Como podem fazer isso?1 Cade a secretaria que cuida do nosso patrimônio.. esse governador só contrata incompetentes pra “cuidarem” da nossa cidade

  • Realmente é um problema sério e que ainda vamos ver muito pela frente. Como muitos desses azulejos e cerâmicas vão chegando perto dos 50 anos de idade elas começam a ficar muito desbotadas, perdem aderência, sofrem fissuras entre outras avarias. Ao visualizar esses azulejos antigos e comparar com os porcelanatos brilhantes das quadras modernas qualquer um sem uma noção cultural/artistica se sente tentando a mudar tudo. E realmente acham que estão fazendo uma boa idéia.

    Uma coisa que o IPHAN, junto as secretarias responsáveis, poderia fazer seria promover palestras obrigatórias para síndicos, contando a história, desenvolvimento e importância cultural dessas quadras e prédios.

    Acho que o problema principal não é a real falta de educação, acho que é mais a falta de comunicação e agregação de conhecimento por parte dos orgãos que tem como função manter o tombamento da cidade.

    É muito melhor você mostrar o porque das coisas serem assim, do que simplismente proibir o ato e punir quem faz. (não to dizendo que não devem ser punidos).

    Abraços e parabéns pelo post!

    • Essa ideia das palestras obrigatórias é boa, Marcel. Abraço pra você

  • Dani,
    Parabéns pelo post! São iniciativas como essa que trarão algum dia aos moradores de Brasília a real noção de que moram em uma preciosidade admirada (ou ao menos muito comentada) pelo mundo todo. Vivemos em um evento único da história brasileira e mundial. Foi só aqui que os preceitos do modernismo foram aplicados na raça e na coragem, na crença de uma utopia que estava ali, que era só fazer acontecer. E Brasília nasceu e prosperou, e temos a obrigação de protegê-la, porque os conscientes e informados são uma minoria.
    Enquanto os moradores do Plano Piloto e do DF em geral não se orgulharem de viverem em uma cidade que é Patrimônio Cultural da Humanidade (tanto quanto as Pirâmides de Gizé, a Acropolis de Atenas, a Grande Muralha da China, entre outros), teremos que gastar nosso latim mesmo para fazer a consciência acontecer. Mas vale muito a pena! Parabéns!

  • rubens

    Creio que o que se poderia discutir também é a preservação e valorização do conceito do que é uma superquadra. cresci em duas e foi incrível. Hoje em dia se fala muito mais em reabilitação e renovação de conjuntos urbanos, com as memórias e valores evocados por tais locais em preferência à preservação de objetos apenas pela sua excepcionalidade estética. Nesse tipo de intervenção prioriza-se o tratamento de grupos de edificações, paisagens urbanas e espaços públicos.Falamos muito dos azulejos da 308 sul (cuja PRESERVAÇÃO é imprescindível), mas creio que o discurso deve ser estendido a todo o conjunto da unidade de vizinhança, que já carece de renovação, bem como as outras áreas da cidade. Não há para mim maior contraste do que o que há entre uma quadra no plano piloto e uma no sudoeste – experimente atravessar uma quadra de lá a pé (impossível com barreiras diversas – rampas, cercados, declives, cercas vivas e ausência de calçadas)

    • Concordo, Rubens, acho que a 308 sul tem o seu significado simbólico, mas o Plano Piloto inteiro é tombado, não existe uma quadra mais importante do que outra. E o que veio depois do Plano é mais complicado ainda, né… Beijo!

  • Marilene Resende de Menezes

    Chamo a atenção para a realidade do Síndico.Sofro com a forma de atuação desse cidadão que desconsidera totalmente os conceitos de qualidade e preservação. O que essas pessoas querem, e não sopu eu quem diz, mas ouço por toda parte, é gastar dinheiro e levar o seu. Por isso a trocação de material de revestimento,.
    Tem muito serviço mal acabado em Brasília, mas a maneira que são feitas as “reformas dos sindícos”, ( não são todos) é toda absurda em vários aspectos. A justiça esta´cheia de processos de reclamação. Tem de haver uma maneira de reverter esse poder de atuação à revelia da maior parte dos condôminos.
    Legal a matéria, Importante alerta para a sociedade.
    Marilene

  • Eu basicamente concordo com tudo o que foi dito aí, mas, como sempre digo, nao existe nada absoluto na vida. Acho meio cataclismico dizer que estão acabando com a memoria de Brasilia. Acho ruins essas intervenções que descaracterizam completamente um predio. Principalmente quando o predio inteiro é reformado.

    Mas acho que ha casos e casos. Morei de 1976 a 2002 num bloco da 207 Sul. Meu pai mora la ate hoje. A quadra dos “predios tortos” teve varias intervenções ao longo dos anos. No fim dos anos 80 e começo dos 90, eles “fecharam” a garagem, que era aberta – uma adequação infelizmente necessária à realidade de uma cidade que tinha um carro por apartamento e passava nessa epoca a ter quatro, cinco veiculos por unidade. A ultima reforma trocou a portaria inteira e plantou varios jardins. Ta razoavelmente diferente do que era ha varios anos.Mas nao acho nenhum pouco “descaracterizada”. Pelo contrario: os predios continuam com suas fachadas coloridas (o bloco “C”, o verdinho, e o “D”, o roxo, vivem com andaimes com obras pra troca dos revestimentos, mas manutenção da mesma cor) e acho a quadra linda e super agradavel. Colocaram banquinhos e plantaram arvores bem grandes tambem. Gostei de todas as mudanças, que foram sim necessarias.

    Agora vem me dizer que é charmoso ou importante manter alguma fachadas imundas, caindo aos pedaços (que põem em risco até a segurança de moradores), como uns predios da 313, 314 norte, por exemplo, que tem que ser colocado o mesmo material so porque foi feito pelo Niemeyer, eu acho um pouco demais.

    Esses predios sem pilotis das 400 sul foram feito em outra realidade. Hoje, alem de horriveis e imundos, representam ate mesmo ameaça à segurança de moradores. Tanto que a solução pra maioria deles “sobreviverem” na Brasilia de hoje foi botar um monte de grade e portão de ferro na fachada, deixando a gaiola ainda mais feia. E aí vem um bonitão que não mora ali dizer que não, que não pode, que é preciso manter tudo do jeito que sempre foi feito? No ohos dos outros não arde, ne?

    Adorei o texto e o debate. Sempre venho por aqui.

    • Renata Furtado

      1 bilhão de likes!

    • Clarice

      Você abordou o ponto certo : dá sim para trocar revestimento e manter as mesmas cores e padrões. Só que isso rarissimas vezes a gente vê no plano. Pastilhas dois por dois, em cores claras, são substituídas sem dó por cerâmicas dez por dez, compondo empenas bicolores ou tricolores nas laterais dos prédios. Dói nos olhos ao passar pelo eixinho. E os moradores são sim responsáveis por se esforçar para mantermos as características singulares dos blocos no plano piloto. Só não li nada sobre as casa da W 3 . Elas já foram padronizadas e bonitas num passado muito remoto.

  • A questão é tema de matéria da página 23 do caderno de Cidades do Correio Braziliense desta terça-feira, 4/12, com o título “Ameaça à memória da capital”.

    • Oi Renato, li sua matéria hoje à tarde e acho ótimo que o Correio entre nesse assunto. Sugiro que o jornal amplie a discussão e não fique só no caso pontual da 308 sul. Pelos comentários que a gente lê aqui e pela mobilização na internet (o post teve mais de 930 compartilhamentos no facebook até agora, às 22h), fica claro que o assunto é importante e precisa ser mais discutido.

      Fica aqui a minha torcida pro Correio entrar nesse debate. Abraço!

  • E ainda há um tal projeto para um ‘centro financeiro internacional’ sendo tocado, sem licitação é claro, por um escritório de Cingapura. Parece que nem os arquitetos dão conta de explicar como isso foi parar lá.

    • Sim… e ainda tem as obras de “melhorias” para a Copa do Mundo… temos que ficar de olho.

  • nossa evolução nem sempre é pra frente… e falando-se de Brasilia, retrocessos são prática comum. fica aqui minha homenagem a essa mesma quadra e seus azulejos de círculos e losângulos, em trabalho que fiz em conjunto com Ana Siqueira em Julho deste ano: http://calefacao.wordpress.com/2012/08/03/mimetico/

    • Dimitri

      Muito legal esse trabalho, Vitor. Parabéns!

    • nem sempre é pra frente, mas nem só de retrocessos vivemos, não é? seu trabalho é lindo, Vitor, abraço pra você.

  • Dimitri

    “Poucos são ainda as quadras onde as reformas nao destruíram os blocos: 206 norte, 303 sul e 314 sul, 316 sul.”

    Amigo, a 314 sul tem pelo menos 3 blocos reformados que mudaram completamente a cara original do bloco, além da reforma completamente sem sentido da pracinha que tem no meio da quadra.

    • André Costa

      Mencionei quadras razoavelmente preservadas. 100 % obviamente não há mais nenhuma. Se vc acha que a 314 está mal, dê uma passeada na 108 e na 106 e na 102… Acredite: a 314 ainda pode ser considerada bonita. E onde fica essa praça? Na frente da escolinha? Nunca me dei conta de uma praça por lá.

      • Dimitri

        Verdade, amigo. Essa pracinha que fiz referência é uma que fica atrás da escolinha “de cima”, com um parquinho de areia com brinquedos (aquela que fica mais perto da W3, uma escolinha menor e acho que de ensino fundamental).
        Abrs!

      • Willy

        André, a 316 Sul já tem suas own personal reformas bizarras em curso. Passa lá e dá uma olhada… Tirei uma foto no cel, inclusive. E na “versão antiga” eram prédios com aspecto de muito bem conservados.

    • Georgia

      minha mãe mora na 316 sul e fico com pena. uma quadra linda e pelo menos dois blocos fugindo completamente ao padrão…sem contar barbaridas do tipo tirar bancos de pedra em formato de S que ficavam embaixo dos pilotis e jogar fora…é bom saber se não são assinados…
      temeridade

  • Dimitri

    Excelente texto. Compatilho com a tristeza de ver reformas absurdas nos prédios de Brasília. Moro num bloco que passou por isso: tiraram os azulejos originais, verdes e brancos, e botaram o clássico mármore (ficou bem cafona, bem classe média querendo ostentar). Além disso, reformaram a praça que tem aqui na quadra (314 sul): o chão ficou horrível, um cinza claro, quando faz sol, reflete tanto que chega a incomodar os olhos; além disso, tiraram os bancos de uma mesa de xadrez e, ao final da reforma, simplesmente “esqueceram” de botá-los novamente!; os bancos sem ser da mesa de xadrez, que eu não sei dizer o material – eram feitos de algo como umas pedrinhas amontoadas, sabe? – foram pintados de um verde-cinza horrível, não sei pra quê diabos. Incrível! Eu realmente não sei quem é o responsável pela reforma na quadra… ainda existem Prefeituras de Quadras aqui? Gostaria muito de me mobilizar contra essas reformas (desculpe a palavra) escrotas!

    • Ainda existem prefeituras de quadra sim, Dimitri, a sua certamente tem! abraço!

  • Georgia

    Dani,
    Parabéns. Matérias como esta contribuem para a educação patrimonial. Aqui no meu prédio estamos passando por isso. Discute-se uma reforma e precisamos ficar atentos. Agora, o que se faz dentro dos apartamentos também é um horror. Sugiro um post sobre o que estão fazendo com pisos de taco – uma amiga arquiteta me disse que são vendidos até para forno de padarias. É pura desinformação porque são pisos nobres, de madeiras que não são mais vendidas! Uma lástima! Gente, cuidem de Brasília ! O concreto é lindo, os azulejos também, o cobogó que as pessoas “fecham”!!!! Pelamordedeus!!!!

    • Arrancar piso de taco deveria ser inconstitucional, Georgia! rs. Obrigada, querida. beijo!

    • Clarice

      Já vi blindex por dentro do cobogó. Horror!

  • André Costa

    Dani,

    Nao tem volta esse processo. Daqui em diante, o troço tende apenas a piorar. E não se enganem se acham que o problema é só na 308 sul, quadra modelo que deveria ser preservada. O fenômeno se alastrou gravemente pelo Plano Piloto inteiro. Tornou-se já irreversível. Atrocidades muito piores foram cometidas na 108, na 107, na 306, na 106, na 208, na 105, na 102 sul e por aí vai. Poucos são ainda as quadras onde as reformas nao destruíram os blocos: 206 norte, 303 sul e 314 sul, 316 sul.

    As alterações são complexas porque não tem mais a forma apenas de cercados de arame nos jardins, que impedem a livre passagem. O inútil do IPHAN até hoje combate apenas esse, que diante dos acontecimentos, tornou-se o menor dos problemas. Espalham-se pela cidade enormes salões de festa e salas de reunião; descaracterizaçao absoluta dos volumes e geometrias originais das entradas; grafismos de péssimo gosto nas empenas e, agora, até coberturas inventadas em blocos sem previsão para isso já tem (113 sul e 402 sul).

    Por que eu bato na tecla que os principais responsáveis são os síndico? Por serem eles que levam as pautas de votação para as assembleias. Como representantes legais dos blocos não poderiam sequer incluir na pauta de votação questoes ilegais. E estamos sim falando de ilegalidade, vide decreto do Arruda que proibe essas obras. O síndico tem a responsabilidade de ser legalmente esclarecidos. Caso os moradores pressionem por reformas fora do padrão, ele deveria ser o primeiro a se negar e a resistir, zelando pelo patrimonio.

    Olá colega do post acima, acredite mas essas gaiolas sem pilotis das 400’s, alguns de autoria do Niemeyer (408 sul), eram lindinhos tb. Todos brancos com revestimento original da década de 60. O problema é que as 400’s foram pioneiras nas reformas já na decada de 80. Os bloquinhos de 3 andares tiveram o revestimento totalmente alterados. Alguns blocos ganharam fachadas novas de pedra de Pirinópolis, pode? Hoje, infelizmente, tornaram-se verdadeiros pardieiros no tocante à aparencia externa. A Brasília original era toda linda. Parecia uma maquete de gesso.

    Meu síndico, com o qual travo verdadeiras batalhas nas reunioes de condomínio, afirma em bom e alto som: “Se eu gostasse de velharia, eu ia morar em museu”.

    Triste e revoltosamente

    André Costa

    • É triste mesmo, André. Mas falar, denunciar e espernear faz parte de um processo de transformação e de educação, que pode vir tardio, mas tem de vir de algum lugar. Sou otimista e não perco totalmente as esperanças, rs.

      Você pode ser minoria, mas continue infernizando seu síndico e gritando na internet, porque as mudanças começam por aí.

      Beijo pra você

  • ja ouviu falar em Restauro de Obra Moderna?

    • Já, Roberto. É possível intervir respeitando as características originais, não é?

  • Hiran Albuquerque

    Um cocô bem grande.

  • Os modismos e tendências estéticas passarão e a história contada em pequenas obras de arte espalhadas por Brasília terá se perdido. Enquanto a valorização imobiliária, as escolhas arquitetônicas, ou seja, os próprios moradores não apreciarem essas obras, sua história e cultura, será difícil manter preservado tais espaços. Educação é tudo. Já que o “Estado” não fiscaliza, muito menos educa, realmente devemos manter viva a importância dos vários elementos da cidade como nosso patrimônio.
    Quonde Brasília valoriza a preservação e estimula a manutenção da nossa capital.

  • Bianca

    Oi, Dani.
    Concordo com vc e com Felipe. Eu acho que existem reformas que foram (ou são) realmente necessárias. Entendo que todo o resto é falta de bom senso mesmo.
    Beijo.

    • Concordo, Bianca. Como disse pro Felipe ali em cima, o problema não é a reforma, é a falta de bom senso mesmo. Bjs

  • Olá Dani, gostei muito da matéria. Estudo arquitetura e urbanismo aqui em Brasília e todos os dias quando ando pela cidade, sinto uma certa tristeza e desânimo. Existe a falta de fiscalização sim, mas para mim o principal é a falta de cultura e educação das pessoas. Elas não sabem o que tem nas mãos, não sabem a importância da cidade que vivem! É triste saber desta realidade, pois se soubessem Brasília seria realmente Brasília. Vejo todos os dias a cidade perdendo suas características modernistas que os arquitetos (um dos mais fodas, desculpe as palavras, mas são os arquitetos deste mundo que mais pensaram em cada mínimo detalhe. Enfim, parabés pela iniciativa e vou compartilhar no meu blog também! (PS: Vi esta reforma esta semana quando passei pela quadra para dar uma observada e pensei a mesma coisa).

  • Oi Dani,

    Eu acho que essa questão tem dois pontos: tem reformas que ficam realmente horrorosas, particularmente aquelas em que os moradores neuróticos constroem cercas e erguem guaritas e jardins para “isolar” o predio. Acho que a Helena Mader, do Correio, fez uma boa materia sobre essas intervenções sem-noção e de gosto duvidoso há alguns meses.

    Agora, tem predios da era “niemeyer”, que são realmente horrorosos, decrépitos, imundos e horriveis, com aquele piso vermelho e um corredor de presidiário.. Na Asa Sul tem um monte, na 208, na 106, sem falar naquelas gaiolas sem pilotis nas 400 sul. Nessa caso é ate complicado reformar ou restaurar para o predio ficar minimanmente apresentavel. Acho que teriam de botar o barraco abaixo, literalmente, mesmo.

    Beijos

    • Discordo.

      • Algumas reformas são necessárias sim, Felipe, e elas podem e devem ser feitas. Mas é possível reformar sem deformar e sem jogar abaixo.

      • De qual parte?

    • Oi Felipe, o mais perigoso quando se fala em patrimônio é o sentimento e a busca por uma “limpeza estética”. Arrancam o concreto e colocam o mármore que afinal é branco e “mais limpo”. Tira o piso e os corredores fétidos. Acontece que a “era Niemeyer”, como se refere ao período histórico e artístico que Brasília surgiu, preconizava uma arquitetura, de certa forma, menos ostentativa e mais funcional. Por isso, a importância da educação patrimonial, não se trata de gosto estético. O que seria de Paris se o gosto estético de alguns tivesse alargado suas ruas, arrancado o calçamento original e demolido os prédios “sujos” por insalubridade? Certamente, hoje, ela não seria uma das cidades mais visitadas do mundo e não habitaria o imaginário de quase todas as pessoas do planeta. Fica a reflexão, a ” era Niemeyer” em Brasília está entre nossos atributos mais autênticos, ou, é possível encontrar o que temos aqui em outro lugar?

      • Gostei da reflexão, Patrícia. Muito bom… beijo

      • Bruna

        Concordo com os perigos da busca pela “limpeza estética”, que varia a cada época e não deveria servir de razão para nenhum tipo de mudanças em nossos patrimônios culturais, mas não acho que Paris seja o melhor exemplo nesse caso. Paris passou sim por uma reforma onde ruas foram alargadas, prédios “sujos” demolidos por insalubridade, parques foram criados e são graças a essas mudanças feitas por Haussmann durante o II Império que Paris teve seus monumentos valorizados e até hoje é uma das maiores cidades turísticas do mundo. Talvez o maior problema no nosso país seja a falta de valor dado tanto à arquitetura como à arte, bem representadas na “era Niemeyer”, e tão aclamadas no exterior, junto com os projetos de Le Corbusier. Se a população brasiliense fosse mais consciente do valor histórico e arquitetônico das obras originais de Brasilia e valorizasse sua própria cultura, não veríamos esse tipo de depredação.

    • Discordo também. Quando se fala em tombamento, as reformas devem ser encaradas como manutenção e não como uma mudança de estilo baseada no senso estético de cada síndico ou morador. Na arte, arquitetura, música e outros segmentos, amamos certas coisas e odiamos outras, mas devemos sempre considerar a importância que cada coisa tem.
      Botar abaixo não resolve o problema e extingue o histórico de uma época de fato muito importante, pior, torna-se uma privação para os próximos. Exemplo disso é o extinto painel de Alfredo Volpi que ficava no interior da igrejinha da 307 sul. Seria o maior painel feito pelo artista, se ainda existisse, e foi vitimado pela ignorância e preconceitos de um padre e meia dúzia de beatas que moravam na quadra.
      O não gostar de “um” é tão perigoso quanto o não gostar de muitos. Depende sempre do poder e do alcance que esse “um” tem…

      • Lets

        esse lance de tombamento … os prédios não são tombados em geral … o que ‘tombado é a igreja, a escola parque , o jardim da 308 … os predios não são tombados … mas sim o conjunto , as escalas bucólica e residencial previstas pelo Lucio Costa. o problema é esse , os prédios das quadras não podem alterar a área construida … mas podem alterar a fachada … e por incrível que pareça não há um plano diretor , orientador , sei lá … dos poderes públicos, no sentido de dar os parâmetros do bom senso dentro do ideário da época … se é que queremos um museu modernista a céu aberto … agora … só daqui a algum tempo … na temporada de novas reformas … quem sabe … quando o arquiteto se juntar ao urbanista, ao paisagista, ao artista plástico que foi o Athos … lá no céu … aconteça um revival na terra …

      • É isso aí, Fábio… Sobre o comentário acima sobre o tombamento, como está dito no texto, essa visão de que o tombamento se refere só à escala da cidade é antiga. O próprio Iphan confirma que o entendimento atual é de que o tombamento é geral, e isso inclui os prédios sim.