Resisti até onde pude.

Mentira! Eu não resisto.

Fotógrafos sérios resistem aos ipês, eu não – sou facinha, fico mapeando e vigiando os meus preferidos. Os roxos, que são os primeiros da temporada, aparecem junto com os maiores  clichês candangos: céu muito azul, árvores secas e o imperdoável pôr do sol.

Outro dia o amigo Bassul fez uma série de fotos dos ipês, em preto e branco, e postou nas redes com as hashtags #ipe #cliche #caiemtentacao #resistiateondepude, se desculpando, para manter seu estilo e sua pose, e não se deliciar no rosa. Mesmo em P&B, eles não perderam a beleza. Roubei dele a hashtag para começar o texto, rs, perdão Zé Roberto!

João Vicente, outro amigo, implica com a profusão de ipês na sua timeline e ganha de volta centenas de ipês que seus amigos fazem questão de enviar para o implicante. Neste ano, também perguntou: “Por que os ipês roxos são cor de rosa?” Boa pergunta. Consigo ver roxo, rosa, lilás e rosinha (esse não dá aquele bouquet fofo, mas não deixa de ser lindo).

Nesta história, há vilões. Eu acuso os periquitos, que por minúsculos goles de seiva derrubam as flores. Bandos atacam alamedas inteiras, como vândalos, e deixam de rastro um chão de flores.

Na sisuda Esplanada, onde, não sei se pelo baixo astral, as árvores não ficam estupendas como nas quadras, eixos e tesourinhas, outro dia vi meninas deitadas no chão que ganhava uma chuva de flores. Foto apenas na memória – só vi e não esqueço.

Neste ano os roxos estão causando tanto que param o trânsito na alameda mais bonita, entre a 705 e 704 sul. Várias pessoas paravam o carro no meio da rua para fotografar o majestoso ipê – o primeiro da fila. Havia tantas flores que o velho ipê não resistiu ao peso dos buques e um galho imenso caiu interditando a rua. Vários saqueadores apareceram para levar seus cachos para casa, afinal, muitos querem um ipê para chamar de seu.

Para terminar, um poema da Julianna Motter: “Amor tem que ser que nem ipê: Florecer toda vez que parece morrer.”

PS: na galeria de fotos, tem uma que roubei da Fernanda Melazo: a foto feita do galho quebrado na 705 sul.