Nasci neste quadradinho nos seus primeiríssimos anos. Não tinha muito o que fazer quando chegavam as férias. Eu e meus três irmãos éramos exportados para o Ceará, onde passávamos férias maravilhosas ao lado dos primos, tios e avôs. Muito banho de mar e muitas caminhadas pelas dunas, na Prainha do Aquiraz.
A casa da tia Carminha ficava lotada de redes. Teve dia de ter mais de 80 pessoas. Almoços, com muita cavala frita, eram em turnos. Também havia um pouco de sertão, com meu avô paterno Si Olavo, que tinha um sítio na Serra da Meruoca e uma fazenda em Massapê. Às vezes, íamos de trem até Sobral, uma aventura que não tem como repetir — o trem de passageiros não existe mais. Era a hora de conviver com os bichos e com a dureza do sertão nordestino.
Quando o dinheiro da família ficava curto, passávamos as férias aqui mesmo. Os meus pais colocavam os quatro meninos no fusca branco – não sei como cabia tanta gente! – e saíamos desbravando meio sem destino, por fora das linhas do quadradinho, as estradas de terra. No cerrado intacto, víamos muitos animais. Nunca me esqueci da primeira vez que vi um lobo guará.
Hoje, prefiro ficar no planalto nesta época, mas confesso que me dá uma certa inveja das fotos de praia na timeline das redes, parece que todos os amigos estão no litoral e fico com saudades da Prainha. Mas basta pegar o carro e sair por aí que a inveja logo passa.
Ao longo da 070 há lindas estradas de terra pelos morros. Com sorte, dá para avistar uma siriema, sentir o cheiro do mato e achar uma cachoeira. Mais perto, na área rural do Gama, também pode ser superagradável, como em todas as outras dentro do quadrado. Sair do asfalto já é férias!