“Se empregaram, certeza”

Em 11 de julho de 2019 por Carolina Nogueira

Sábado passado conheci uma pessoa linda chamada Patrícia. Intensa, forte, daquelas que você vê pelos olhos dela que ela come a vida todos os dias no café da manhã. Ela é de Recife e mudou pra Brasília em 2012 – ou seja, no ano que o Quadrado nasceu. Quando Patrícia soube que eu que escrevia no Quadrado – é justo flexionar esse verbo assim, no pretérito imperfeito – ela me agradeceu. Ela sinceramente me agradeceu.

Contou o quanto conheceu Brasília pelos nossos olhos. A quantos lugares ela foi porque nós indicamos. Quantos momentos bonitos viveu, quanta gente maneira ela conheceu. Contou como o Quadrado fez ela conhecer Brasília, amar Brasília, se abrir a essa cidade. Eu rapidamente comecei a me desculpar, como frequentemente faço: “o Quadrado está tão abandonado…”. Ela não aliviou, não. E falou essa frase, que está me fazendo rir até hoje: “eu fico, às vezes, lá em casa, pensando – o que será que aconteceu com essas meninas pra elas pararem de escrever desse jeito? Se empregaram, certamente. Elas deviam ser desempregadas, faziam isso enquanto tinham tempo, procurando emprego. Agora se empregaram”.

A Patrícia não está de todo errada. Eu e a Dani já trabalhávamos com horário fixo em 2012, mas num ritmo mais leve. Nós duas assumimos um monte de outras coisas de lá pra cá – trabalhos, projetos, passamos por alguns quebra-molas na vida pessoal – e realmente o Quadrado foi saindo do ritmo que um dia tivemos.

Junto com isso, veio vindo um questionamento profundo sobre nossa missão com este site. A gente já falou de tanto restaurante, lojinha, café, de tanta feirinha, festa, festival, que muitas vezes nos perguntamos se vale a pena mostrar mais um café, mais uma feirinha, mais uma festa. Sem falar na consciência de mundo que foi despencando na nossa cabeça com cada vez mais violência: vale a pena falar de cafés que cobram trinta reais num ovo mexido quando, meu deus, preciso terminar essa frase?, quando o mundo está aí como está. Mas até a resposta a essa pergunta também tem mudado um pouco de perspectiva mais recentemente. Será que é parando de falar sobre as coisas boas da vida que o mundo melhora? Talvez não, né?

Estou aqui dividindo com vocês – e com a Patrícia – o que anda passando pela alma do Quadrado, minha e da Dani. Vontade de pensar sobre nossa cidade e sobre o mundo e sobre a vida não vai nunca faltar por aqui. Carinho pela comunidade linda que criamos não falta, também. Tempo, às vezes, falta – mas a gente dribla isso.

Vocês querem dividir com a gente o que pensam sobre tudo isso? Com que cara está a Brasília de 2019? Que inquietações, que vontades, que novidades vocês estão perseguindo?

Não sei se vocês estão com saudades da gente como a Patrícia está – mas eu estou com saudades de vocês. 😉 Bora fofocar aqui nos comments?

  • Janira Borja

    Ah, que bom ler isso! Estava como Patrícia – com saudade do Quadrado! 🙂 Também já fui a muito lugar indicado por vocês e, mesmo quando não ia, estava sempre por aqui, lendo as reflexões e guardando as dicas. Mas entendo um pouco esse sentimento. Também tenho um blog de viagens abandonado (www.burocrataviajante.com.br) e um instagram que fiz dele (@burocrataviajante)… Além dessa sensação “vale a pena falar de viagens com tudo o que está acontecendo à nossa volta?”, da minha parte rolou também um bode com o instagram e o que ele tem se tornado (e acho que vale para redes sociais em geral)… Ainda que compreenda verdadeiramente o que vocês estão passando, acho que beleza é sempre importante, mesmo no meio da barbárie. Por isso, acho que deviam continuar o belo trabalho que desenvolveram aqui com o Quadrado Brasília. Dá gosto de ler!

  • Estevon Nagumo

    Um post da Lara Haje sobre a experiencia de costura no Espaço Moulage me convenceu a ir atras deste curso. Adorei aprender a costurar minhas próprias camisas. Hoje ao menos faço minhas barras das calças graças ao incentivo do Quadrado Brasília de explorar mais esta linda cidade. Mt obrigado!

  • Agatha Christie Vaz Gomes Cost

    Sinto muita falta também. Vim para Brasília em 2010 e o Quadrado me ajudou a olhar a cidade com carinho, conhecer cantinhos, artistas, peculiaridades. Além disso, os devaneios sempre presentes, as perguntas, os incômodos compartilhados sempre fizeram muito sentido. Se o formato dificulta, pensem em migrar para o insta. Só não nos deixem!!!!

  • Felipe

    Tal qual a Patrícia também cheguei de Recife e este espaço foi o que me fez achar o que eu achava que não encontraria na cidade: cultura. Sabe como recifense é bairrista e acha que a cultura pernambucana é o umbigo do mundo? Ledo engano. Brasília me ressiginficou. E graças ao Quadrado.
    E olha que já cheguei aqui na fase ~ morta ~ da página, porém consumi tudo como quem pega um livro antigo.

  • Fernanda Baldo

    Volta! Volta! Volta!

  • Isabela Ornelas

    Sou de Brasília, nascida e criada no quadradinho… e ainda assim, os textos, dicas e posts de vocês me ajudaram a enxergar Brasília de uma forma muito mais doce que os concretos frios que se apresentam.

    Além de ser um site/blog que recomendo para todos amigxs. De Brasília ou de outras cidades.

    voltem! nunca te pedi nada! =)))))

  • Ronaldo Moura

    Vocês construiram esse não lugar de good vibes que é, para mim, mais ou menos uma cidade do Ítalo Calvino, daquelas que o Marco Polo visitava em tempos imemoriais. Esse lugar de afeto, cores e sabores (e luzinhas) já marcou profundamente cada leitor de vocês. Obrigado.

  • fabiominghetti

    Eu sinto falta! Voltem!

  • Patricia Monteiro

    Eita menina ! Tu escreveu foi ??
    Meu caso com o quadrado começou quando eu cheguei aqui, nessa cidade efervescente e ao mesmo tempo estranha, borbulhava inspirações e ao mesmo tempo uma esquisitice, “meio silencio mineiro”, ou goiano sei lá, também vai saber … Acontece que quando eu descobri o quadrado eu descobri pessoas, lugares, cheiros, arvores, pickniks, parques, cachoeiras, feirinhas, artistas e tudo que você pode imaginar que é longe do mar, longe de onde eu vim.
    Vim para Brasilia para trabalhar e como todos que chegam aqui, demorou um pouco para eu “descobrir” a cidade, mas hoje já me sinto colhendo novos frutos, além de lugares eu pude “descobrir pessoas”; pessoas essas que a vida vai me trazendo de presente só Deus sabe como, mas uma delas foi Carol, que dentro do meu carro, a meia noite depois do show de Gal, entra aquela menina, com uma historia que ia me trazer lembranças afetivas da minha chegada no planalto Central, e ela veio pelas mãos, de outra nada menos pernambucana, e amiga queridíssima, a Mykaela, que alias posso assegurar que um presente trouxe outro. E assim, pude agradecer e dizer o quanto senti falta de noticias, porque o quadrado me fez falta, lembro de quantas vezes digitei QUADRADO BRASILIA, e a ultima publicação estava tão velha que eu fui tentar entender o sumiço : se empregaram, só pode ter sido algo muito importante, porque me deixaram “num vazio de Brasilia”, mas achei vocês de novo e tô aqui para agradecer e para avisar uma coisa : suma não ! Vocês fizeram falta !! um chêro.

    • Felipe

      Li esse “tu escreveu foi?” com a entonação mental de só quem consegue ler “e foi foi?” ou “e é é?” da maneira certa.

  • pedro

    Sim, sempre valerá a pena mostrar mais porque a vida e a cidade são assim, um movimento constante. Acompanhar esse fluxo por aqui sempre foi mais interessante do que em outras plataformas com a mesma proposta.

    Nos últimos meses pipocaram alguns posts com uma pegada, digamos, política. Talvez seja o segredo para vocês reerguerem o site atendendo essa inquietação. Encontrem o equilíbrio entre agenda cultural e “consciência social”. A cidade precisa mais do que nunca de vozes como as que costumam passar por aqui, seja para diversão ou problematização.

  • Débora Cronemberger

    Vocês espalham informações que são uma delícia, com o bom gosto e olhar apurado que cada uma possui. Dicas de programas e lugares para embelezar o dia. Propõem debates necessários. Em tempos como os atuais, isso é muita coisa – e faz falta.

  • Priscila Pereira

    Estou com a Patrícia…sinto falta das publicações aqui, mas compartilho com você do sentimento de que as coisas andam áridas por aqui.