O motivo meio absurdo pra esse encontro, pra ser sincera, é porque a Flora é filha da ex-bibliotecária da escola dos meus filhos. Um dia, num dos cafés da Asa Norte, nos esbarramos e engatamos um papo – trocamos telefone, marcamos um café (eu sou dessas, com algumas pessoas).
Depois, ela foi trabalhar na Castália, a padaria perto de minha casa. Eu passava por lá e dava um oi pra Flora, e a gente conversava mais um pouco. Outro dia a gente combinou um vinho.
A gente falou da vida na França e a vida no Brasil, sobre mudar e voltar, sobre andar a pé em Brasília. Será que é mesmo perigoso andar sozinha pelas passagens subterrâneas? Eu contei pra ela que tenho uma amiga que bate a cidade toda de bike sozinha, e que não tem medo – e que eu mesma tenho medo às vezes, mas às vezes não. E que acho incrível que às vezes tenho menos medo quando estou com meus filhos do que sozinha.
A gente falou sobre como é virar um pouco um ponto turístico na cidade – ser uma pessoa atrás de um balcão, uma pessoa que faz parte de uma paisagem. Ela me contou das pessoas que conheceu servindo café, das conversas que tinha com algumas pessoas específicas que sempre iam na padaria. Que ficou amiga de uma família bonitinha – o casal elogiava as playlists que ela escolhia, e como ela se sentia feliz quando eles chegavam.
A Flora me contou que divide com a mãe dela uns pontos afetivos em Brasília – lugares que vão fazer falta agora que ela vai embora. Uma árvore, uma loja, uma esquina. Eu fiquei horas pensando nisso.
Que do outro lado do balcão, tem a Flora. Em cada café, loja, restaurante, de Brasília e do mundo, ali, do outro lado da catraca, te vendendo a passagem, tem alguém que sonhou uma coisa, que sabe desenhar, alguém que tem medo de algo besta ou de algo sério, alguém que brigou com a irmã hoje cedo. Às vezes, a gente enxerga esse outro ser humano, a gente se abre pra quem está ali do lado – e é bonito.
Tchau, Flora. Muito boa sorte. Obrigada por me lembrar de ver.