O ipê é um fenômeno

Em 09 de setembro de 2014 por Dani Cronemberger

ipêamarelo

O ipê é tão clichê em Brasília quanto a palmeira é na praia e o cajueiro, em Pirangi. O ipê é tão instagramável, do verbo imaginário instagramar, quanto prato chique de restaurante e a exposição da Yayoi Kusama no CCBB. O ipê é um fenômeno: falamos as mesmas frases sobre ele e tiramos as mesmas fotos, ano após ano, e ele não enjoa, não amola.

Dois anos atrás, também em setembro, escrevi espantada com a sincronia olímpica do ipê. Disse que ele parecia contar um, dois, três e já. Mas hoje, dirigindo pelo eixão, mudei de ideia. Acho que ele não conta nada. O ipê é um fenômeno: simplesmente… pá. Explode.

Essa aparição abrupta continua sendo um mistério pra mim. Porque, não sei se você percebeu, mas o ipê sempre esteve naquele lugar, o ano inteiro, e ninguém nunca prestou atenção. Para os meus olhos leigos, até a explosão, ele é uma árvore igual às outras, com galhos marrons e folhas verdes, camuflado no meio do nosso jardim. Só que as folhas desaparecem todas de uma vez, assim, sem mais nem menos, como quem sabe a hora de pôr fim às coisas, de sair de cena. E generoso, o verde abre espaço para o amarelo brilhar. É ou não é um fenômeno?

Além de tudo, o ipê possui conhecimentos meteorológicos, pode reparar. No fim de agosto, ele fica naquele vai-não-vai. Umas flores brotam aqui, outras ali, mas numa timidez danada, todo desconfiado. Até que vem a chuva derradeira. A tempestade que limpa a poeira pela última vez na seca. Só então, confiante e abusado, ele explode com tudo. Um fenômeno esse ipê.