De uns tempos pra cá, dei pra isso – todo tempo que tenho livre, ao invés de sair recuperando a eterna lista do a-fazer, ao invés de ligar pra alguém que eventualmente esteja livre também, me pergunto solenemente: o que eu quero fazer?

Semana passada me respondi decidida: quero uma horinha sozinha com um belo chá, um belo bolo e meu belo livro, esse amigo tem me exigido pausas para processamento a cada três ou quatro páginas. E tinha que ser no Quintal f/508, um lugar onde até então só tinha ido uma única vez, mas que parecia me chamar pra esse encontro inadiável comigo mesma.

Nada contra as pessoas – mas tem abraços e conselhos, e um tipo específico de companhia, que só um belo bolo, um belo chá e um belo livro são capazes de te dar.

Cruzei a cidade, estacionei, toquei o interfone e subi. Escolhi uma mesa com vista de 360 graus: atrás de mim, o janelão esparramando o Olhos d’Água; na minha frente, a coleção completa de detalhezinhos lindos emoldurando o trabalho lento e cuidadoso daquelas moças que ficam ali confeitando delícias como se estivessem na cozinha de casa.

Sentei, abri a bolsa – meu livro não estava. Eita. Meu convidado de honra me deixou na mão.

Teve o caderninho de desenho, claro. Mas teve principalmente um suspiro sereno feito da alegria daquele momento comigo mesma – e só comigo, sem anteparo nem barreiras. Tirei essa foto e me prometi (e cumpri) que guardaria o celular pra sempre.

Das poucas certezas da vida: estou aqui comigo mesma, e isso é bom. Com sorte, com um belo bolo, um belo chá e, se possível, com um belo livro.