Um dos meus melhores amigos sofreu um assalto à mão armada ontem. Levaram o celular dele em plena quadra de esportes da 205 Sul, enquanto ele tomava conta da filhinha, que andava de bicicleta ali do lado.
Há coisa de um mês, eu tinha escrito um texto sobre a violência em Brasília que era quase um alerta contra os alertas exagerados. O climão de violência iminente que ganhou as manchetes da cidade depois de um janeiro especialmente violento espalhou um baixo astral que eu queria combater.
O que eu queria, e acho que continuo querendo, era convidar a cidade a não se deixar intimidar pela violência. Era quase um manifesto de resistência – que eu preferi não publicar quando me dei conta de que tenho mais perguntas do que respostas sobre este assunto.
No texto eu falava que tenho, talvez até mais do que antes, ocupado o espaço que me cabe nessa cidade. Que é todo. Tenho andado mais a pé, andado mais de bicicleta nos trajetos diários. Claro que tenho medo: deixo a carteira em casa, olho pra todos os lados possíveis – mas não deixo de cruzar o eixão pelas passarelas subterrâneas no meio da tarde. A cidade é minha, daqui não saio, daqui ninguém me tira.
Meu credo sempre foi: não dá para viver com medo de ser alvo – nem muito menos encarando o outro (especialmente o outro mulato, pobre, marginalizado) como uma ameaça em potencial. Me recuso a me trancar num shopping, a abandonar minha humanidade em favor de um “cuidado” difuso, intangível e provavelmente inútil.
Mas ontem meu amigo me contou que tudo isso tem a ver com o seu próprio episódio. Ele viu o cara estranho rondando a quadra. Mas se disse: “não vou embora, eu tenho o direito de ver minha filha andar de bicicleta na quadra num domingo de manhã”. E uma arma mostrou pra ele que, aparentemente, ele até tem o direito, mas não tem mais o direito a seu celular.
Estou tentando não perder a fé. Alguém aí me ajuda?
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