Feriadão a pé

Em 05 de junho de 2018 por Carolina Nogueira

Às vezes, tudo o que a gente precisa na vida é de uma crise. Não que a gente goste delas: nosso cérebro foi desenhado pra se repetir e quase nenhum de nós adora uma mudança repentina de rotina, especialmente quando a mudança vem complicar a vida. Mas, às vezes, quando a gente consegue sair do modo reclamação, nos abrimos pra olhar a realidade que surge com um olhar curioso.

Não que seja algo demais passar o feriadão decidida a não pegar um carro. Não que eu tenha esbarrado em novidades incríveis. Só andei muito de bike, fiz compras a pé, fui pra um samba a quatro quadras da minha casa do outro lado do eixão andando e de noite (não morri), resolvi pequenos pepinos práticos da casa no comércio local, fui pra três barzinhos, tomei café em um bando de canto novo. Tudo isso sentindo o sol em mim, e vendo a lua, e vendo o dia e vendo a noite, vendo as plantas e as pessoas.

Eu sei, não foi nada demais – mas eu me senti mais livre.

Na minha aula de artes a professora falava isso: se dê restrições (decida um tamanho de papel, ou um suporte), isso vai te dar mais liberdade criativa. Lembrei disso quando essa crise me jogou de novo nesse aparente paradoxo. Eu, como todo mundo, tive minha mobilidade cerceada com essa crise. Minha liberdade de ir e vir lá, com meu carro, como eu faço todo dia. E no entanto, nessa micro-escala, nesses dias sem obrigações de horário, posso dizer sem dúvida alguma que me senti mais livre.

Sei bem que só dá pra romantizar a crise morando no Plano. Mas esse fato prático da minha vida, desse meu lugar de fala meio burguês, me levou a essa reflexão mais profunda sobre crises, restrições e liberdades. E achei bem doido pensar nisso tudo.