Este site é, em grande medida, meu querido diário das minhas questões urbanísticas complexas. Todas as perguntas e inquietações que meu peito brasiliense carrega desde que se entende como tal, tudo o que eu queria mudar e não sei como, tudo o que eu acho incrível nessa cidade e que enlouqueço porque parece que só eu tô vendo, tudo vira post aqui – pra meu grande alívio emocional, porque vocês sabem: o que vira letra alivia o peito.
Já era bom – mas ficou melhor quando tive a grande ideia de conversar com pessoas que partilham minhas questões complexas. Daí nasceram as Mesas Quadradas: papos reais com pessoas esquisitas como eu, que topam bater papo e pensar juntos uma nova visão de cidade. Fiz novos amigos, cheguei a incríveis conclusões, passei a ser convidada pra participar de outros debates em outros lugares (se liga: este sábado vou mediar o painel Renovação Política no Setor Criativo Sul e dia 17 deste mês participo da Jornada do Patrimônio Cultural, conto mais depois).
Mas, confesso, às vezes o grande e inconveniente “e daí?” chove na minha cabeça. “E pra quê?”. “E o que muda?”. Chegam sem ser convidados e, sinceramente, me assombram. Daí que mais uma vez fui pedir socorro pra minha amiga Gabi Tenório, arquiteta, urbanista, artista incrível, professora da FAU/UnB. Minha esperança: ela, que festeja cada iniciativa desse tipo, poderia, então, me explicar por que diabos eu tanto quero esses debates? Pra que? Fui conversar com ela sobre as Mesas Quadradas que a gente fez na Feirinha – entender e costurar conclusões.
Pra ela, o debate sobre o FAC teve o efeito bem prático de esclarecer e informar as pessoas – um papel que o próprio site da SeCult nem sempre ajuda muito a fazer, sinceramente. Apresentar iniciativas comunitárias como as que a gente trouxe para a segunda Mesa inspira as pessoas a criar novas iniciativas e mais: fomenta uma reflexão interessante sobre os limites do poder público. Faz pensar sobre o que cada um de nós, como cidadão, podemos fazer.
Mas a melhor parte da nossa conversa, o que mais me deixou feliz, foram as ideias dela sobre como essas discussões agem em cada pessoa que pensa sobre elas.
“A cidade é onde tudo acontece, é onde a gente vive, mas a maior parte das pessoas faz os caminhos no automático, ninguém pensa em como”, disse a Gabi. “Os debates e os textos que refletem o como fazer, na cidade, têm o sentido profundo de formar um público para as questões da cidade. Uma vez que foi provocado a pensar sobre o caminho de casa para o trabalho – o que ele vê, por onde transita, com quem cruza no meio do caminho – essa pessoa não vai mais deixar de ter isso em mente. Ele passa a entender que pode e deve ter prazer nesse trajeto, todos os dias, dialogando com pessoas, encontrando comércios, praças interessantes. Você transforma essa pessoa, e essa pessoa vai querer transformar esse seu caminho. E isso transforma a cidade”.
Vim aqui só compartilhar essa minha alegria com vocês. Uma reflexão sobre a força dos debates, graças a Gabi Tenório que, num passe de mágica, transforma meus “e daí?” em “vamos em frente”.
* As Mesas Quadradas foram realizadas na Feirinha do Quadrado, no último dia 14, no Museu Vivo da Memória Candanga. O evento foi patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC).