Desde que a gente resolveu fazer a segunda edição da Feirinha, um coisa sempre ficou muito clara: não seria só um lugar de consumo e diversão. A gente quer fazer desse encontro a oportunidade para conhecer pessoas que enxergam Brasília como a gente enxerga, colocar nossas ideias em contato e fazer alguma coisa legal nascer daí.

Fomos ouvir alguns coletivos da cidade, gente que organiza várias regiões do DF pela cultura e pela cidadania, e chegamos a uma primeira conclusão: tem muita gente que estaria produzindo cultura, colaborando com qualidade pra cena da cidade, se soubesse como. Foi assim que nasceu a primeira Mesa Quadrada da Feirinha (nossas mesas redondas se chamam Mesas Quadradas pois somos muito espirituosas).

Convidamos o Thiago Rocha Leandro, subsecretário de Fomento e Incentivo da Secretaria de Cultura, pra tocar com a gente durante a uma conversa sobre a política de cultura do Distrito Federal. A gente quer que todo mundo saia de lá entendendo enfim tudo o que é o FAC: as linhas de financiamento disponíveis, quais os editais e quando eles saem. Perceber claramente os caminhos para quem quer produzir cultura no DF, aproveitando a sorte que a gente tem de ter um programa de financiamento tão estruturado e tão forte (e meio burocrático, como tudo no serviço público). A Conselheira de Cultura do Plano, Debora Aquino, e o Max Maciel, que é um importante ator cultural da Ceilândia, também participam desse papo.

Já nossa segunda roda vai ser a oportunidade de discutir a ocupação do espaço público numa perspectiva diferente. Agora a gente se interessa não só por essa ocupação de eventos, que a gente vê em todo canto – inclusive na nossa Feirinha. Estamos falando de ocupação mesmo. De gente que repensa e reorganiza a comunidade e o espaço ao seu redor.

Tem desde um pessoal que faz uma gincana pra revitalização de praças, pistas de skate e escolas, até um grupo que trabalha valorização do patrimônio com criancinhas bem pequenas, explorando a cidade no passo na formiguinha. Tem a Amanda Sicca, uma arquiteta que foi aluna da minha amiga linda Gabi Tenório e que tem uma proposta inovadora, louca e incrível pra gente solucionar o trânsito (de gente!) no eixo Leste-Oeste do Plano Piloto. Tem uma turma que faz agrofloresta em plena Asa Norte, o pessoal que organiza as novas ocupações do Setor Comercial Sul, mais cinema ao ar livre e ocupações reais, comunitárias, de transformação social que acontecem em Taguatinga e no Varjão.

Essa mesa procura resposta pras indagações que ficaram no ar no final da primeira edição do Mesa Quadrada que a gente fez no ano passado – onde a gente discutiu se esses eventos no espaço público podem reduzir a desigualdade social em Brasília. Saímos de lá com a sensação de que precisamos de muito mais que eventos esporádicos, e fomos atrás agora dessa turma que vai muito além de uma festinha ou uma feira. É gente que cuida mesmo de um pedacinho da cidade, propondo grandes ou pequenas transformações, mas que são permanentes e profundas.

Além de tudo isso, abrimos espaço para que a Padê Editorial faça um debate sobre coletivos que publicam a diferença. São iniciativas editoriais que se interessam pela temática negra e LGBTQ, e que pretendem discutir nesse espaço como o trabalho delas surge como alternativa a um mercado editorial tradicional dominado pelo ideário branco, heterocisnormativo e burguês.

A gente quer comer, quer comprar, quer cantar, mas quer sobretudo que a Feirinha seja mesmo um espaço de debate e crescimento – pra quem faz cultura e pra quem quer fazer. Um convite pra absolutamente todo mundo que vive essa cidade com um olhar crítico e de transformação. Afinal, foi exatamente pra transformar tudo que Brasília nasceu.