Era meu último dia de férias numa cidade totalmente desconhecida e eu voltei pra casa um pouco mais tarde do que imaginava, pela estação de metrô que toda vez desafiava meu senso de direção: algumas vezes, durante o dia, eu peguei o caminho oposto achando que sabia onde estava indo.
Dessa vez era de noite, eu estava sozinha, tinha vários malucos estranhos no trem e eu estava sem bateria no celular pra ficar checando o gps. Faltava uma estação pra minha quando eu vi aquela menina de vestido azul: ela falava alto, estava toda arrumada, tinha aquele jeito de quem sabia o que estava fazendo e, por sorte minha, desceu na mesma estação que eu.
Cheguei perto e perguntei se ela podia me ajudar a encontrar meu endereço. Ela sacou o celular, viu que a gente ia pro mesmo lado e, sem que eu conhecesse ainda o movimento que se alastra pelo facebook, me perguntou: vamos juntas?
Esse movimento tocou meu coração porque todas nós temos uma história dessas pra contar. Todas nós já sentimos medo alguma vez. Todas já vimos algum dia uma menina com jeito acuado. Todas precisamos saber que podemos e devemos contar umas com as outras.
O grupo no facebook compartilha histórias cheias de empatia e cuidado e estimula meninas das diferentes regiões a se reunir em grupos locais, para poder se ajudar com mais frequência. Uma mocinha daqui de Brasília, a Suzanne, está organizando um grupo de whatsapp (6191440259) pra reunir as meninas de acordo com rotas e horários.
Impossível ler isso sem lembrar da menina cheia de atitude e de vestido azul – Jordan era o nome dela. Falamos rapidamente sobre nossas vidas, sobre minhas férias, sobre andar sozinha de noite, nos despedimos com dois beijinhos. Brigada, Jordan, pela carona a pé nesse pedacinho de caminho.