O almoço com dois amigos era para discutir um trabalho e, claro, discutimos tudo menos isso. Abri o debate com o assunto dominante de 2016: a conjuntura nacional e mundial depressiva, e a sensação de que todos em volta foram engolidos pelos sentimentos ruins da má fase. Ótimo tema para um encontro de fim de ano, inclusive.
Não satisfeita, emendei a conjuntura política com os efeitos da tecnologia e das redes sociais na nossa vida, outro tema dominante sobre o qual não preciso falar muito. O exemplo prático de todas as análises que estamos cansados de ler é a nossa própria vida, e a gente sabe que as coisas não vão bem.
Assisto a Black Mirror a conta-gotas pra dar conta de assimilar a realidade dura diante de mim. A sensação, que já tem anos mas foi especialmente dolorosa em 2016, é de soterramento. Estamos, de repente, soterrados de informações, imagens, opiniões, notícias trágicas ou falsas ou inúteis de todos os minúsculos cantos do planeta. Como dar conta disso? O que fazer com tudo isso?
Os detalhes de um massacre na África, de um extermínio em massa no Oriente Médio, de um desastre de avião na Rússia: o que fazemos com eles? E com o assassinato brutal em São Paulo, a fome de um professor no Rio, a imagem de um corpo violentado no Nordeste? Isso tudo misturado com milhares e milhares de outras informações urgentes: isso tem provocado alguma ação, qualquer ação positiva em nós?
Não sei, realmente, se a solução é simplesmente não saber, se isso seria se alienar, ou se estamos mais alienados do que nunca com tanta conexão. Tenho só perguntas. Mas suspeito que, se não for para provocar ação, se for para simplesmente ser soterrado por uma tonelada de impotência, não pode fazer sentido.
A parte boa é que tenho bons amigos, e ao invés de embarcarem na minha melancólica análise do mundo, eles rapidamente sugeriram estratégias. Simples estratégias que envolvem ocupar o tempo com coisas mais importantes: um livro que quero ler faz tempo e não consigo, por exemplo. Uma conversa com a pessoa ao lado. Abandonar as primeiras páginas de sites de notícias e configurar minha internet para abrir em boas leituras.
Simples estratégias que, em tempos de estímulos irresistíveis, são também complexas. O choque de realidade veio quando espiei o vídeo que o Facebook fez com minha retrospectiva do ano. Ao final da animação fofa, uma informação chocante: “Você curtiu 6.741 coisas em 2016”. Ali estava a contabilidade do meu tempo perdido. Deixei de curtir 6.741 vezes a minha vida real.
Diante desse número, minha promessa de 2017 passou a ser criar estratégias e batalhar por elas. Preciso tratá-las com disciplina budista. Preciso querer, com toda a verdade, não ser o que as pessoas estão sendo hoje. É uma luta constante essa de escapar da falsa normalidade, mas me prometo não desistir. E para provar minhas verdadeiras intenções, começo oficialmente hoje.
Porque também aprendi com minha amiga no almoço que hoje, dia 28 de dezembro, se encerram os 13 ciclos lunares de 2016. Vivendo e aprendendo: ciclo lunar corresponde ao tempo que a lua leva para voltar a uma mesma posição em relação ao Sol. Ou seja, é o período em que se completam as quatro fases da lua.
Portanto, os ciclos lunares de 2017 começam amanhã, dia 29. Achei um encerramento mais especial do que o do dia 31, que leva em conta só um calendário. Então mentalize aí, gente. Faça desta noite especial, é hoje. Feliz Ano Novo.
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WILD CHILD
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Dani Cronemberger
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