Não foi exatamente uma bronca, mas foi a Bebel, do Objeto Encontrado, que me lembrou: o ano começou – e começou mesmo! – e a gente ainda nem veio aqui dar um beijo em vocês.
Nem esperem como explicação alguma viagem mirabolante ou a correria do fim do ano, sabe como é, tanta coisa pra fazer. A gente esteve ausente exatamente pelo motivo contrário. Estamos de boa. Praticando o deboísmo.
Viajamos de leve, voltamos logo, engatamos relacionamentos sérios com nossos livrinhos, enfileiramos dezenas de filmes no Netflix, demos voltas de bicicleta, no máximo tomamos um sorvete ou um chopp no meio dessas tardes escaldantes. Marcha lenta mesmo.
Talvez tenha a ver com o livro que inaugurou meu ano, Devagar, do Carl Honoré. O livro conta a saga de um jornalista em busca de desaceleração. Ele segue a trilha dos movimentos espalhados pelo mundo como o SlowFood e o Città Slow, que pregam uma relação mais pausada e de melhor qualidade com a alimentação e o urbanismo, se estendendo para vários outros campos da vida: o esporte, a relação com o outro, o sexo.
Nada que a gente não saiba, mas é muito bom abrir os horizontes para todos os campos de vida em que podemos pegar mais leve. Ler a descrição detalhada que ele faz de uma refeição devagar, no interior da Itália, levou meus sentidos a uma viagem tão profunda que eu até sonhei com sabores, cheiros, texturas…
Brasília convida a esse movimento. Quando li a parte sobre urbanismo, quando ouço São Paulo exaltando reformas urbanas para implementar espaços-parque no meio da cidade, dou um risinho interno pensando nas nossas árvores, nas nossas sombras, nas nossas frutas, nos parquinhos das nossas quadras, na nossa ciclovia. Aqui em Brasília, está tudo aí.
A vida pode ser simples, não é mesmo? Que a gente se lembre disso em cada dia desse novo ano.
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