Para celebrar nossa reinvenção

Em 08 de março de 2018 por Carolina Nogueira

Eu tenho na minha parede um cartaz bem lindo, com uma frase atribuída à Virgínia Woolf: “Feminista é qualquer mulher que diga a verdade sobre sua vida”.

Qualquer mulher que pense e que fale sobre a desigualdade na divisão de tarefas domésticas, sobre a diferença de remuneração, sobre ter medo de andar sozinha de noite, sobre as vezes em que sofreu violência física, sexual, moral, sobre ter sua fala interrompida por homens, sobre ter sua voz silenciada, sobre pressão psicológica, sobre duvidarem de você antes de você abrir a boca porque, afinal, você é uma menina, sobre julgarem sua roupa, sua aparência séria demais ou desinibida demais, sobre passar a vida ouvindo frases que cortam suas asas como se fossem apenas puras verdades, “é complicado ser uma mulher sozinha”: qualquer mulher que olhar com sinceridade pra sua vida – não importa com idade – vira feminista.

O nome assusta algumas pessoas, mas é só isso: ser feminista é ter a coragem de olhar criticamente pro mundo e pro nosso lugar dentro dele.

Passa por admitir nossos próprios medos – os lados escuros que a gente nem sempre gosta de olhar na gente. Precisa – e isso é difícil – dar uma brigadinha com nosso complexo de Édipo. Tem que admitir que o príncipe não vai vir nos salvar – porque ele não vai, mesmo. Na melhor das hipóteses, ele salva ele mesmo no final do filme, e lava as próprias cuecas, e compra a própria comida saudável. Na hipótese mais brilhante de todas, e mais rara, ele vai querer uma companhia bacana pra isso, em igualdade de condições.

Depois que você viu o mundo assim, não dá pra desver. O que dá é pra tentar ver ainda mais, talvez de um jeito ainda mais difícil, mas ainda mais real: perceber as outras manas que estão em condição muito, mas muito mais complicada que a sua. E tentar fazer alguma coisa por elas. Com elas. Juntas.

Por isso que hoje é um dia importante, apesar das florzinhas que insistem em distribuir em agradecimento por “enfeitarmos o mundo”. A gente não precisa implicar com as florzinhas. Precisa é saber, e explicar pra quem ainda não entendeu, que não é sobre deixar o mundo melhor, mais doce, mais bonito. É sobre celebrar o que podemos fazer juntas – de uma festa a uma revolução. De fazer as unhas a fazer uma empresa. Sobre se apoiar e mudar o mundo.

Que a gente consiga estar juntas hoje, nas ruas ou onde quer que estejamos. Celebrando nossa reinvenção.

 

Bora?

8M em Brasília
Concentração no Museu da República

13h – Início da programação nas tendas
14h – Início de Shows Feministas na Tenda Central, com Mônica Costa, Meimei Bastos,  Carmen e Thábata Lorena
14h às 17h30 – Tenda ludofeminista: lugar de criança é no feminismo
14h40 – Mística de abertura na Tenda Central, com Direção de Cleani Calazans e colaboração da rapper Cleo Street e Minas do Gueto
15h – Aula Pública na Tenda Central, com o Debate: “Pela vida das Mulheres, em defesa da democracia, em defesa dos direitos, contra o racismo”
(Horário livre) Teatro Politico na área externa do Museu e nas Tendas com a ETPVP – Escola de Teatro Político e Vídeo Popular de Brasília
(Horário Livre) Teatro de Rua da Casa Frida: As Desempregadas
16h30 – Ciranda com Martinha do Coco e batuques, a partir da Tenda Central
17h às 17h30 – Fanfarras de Mulheres
17h30 – Início da Marcha, com falas das entidades e coletivos que construíram o Ato e shows de Vera Verônika e Donas da Rima
18h40 – Chegada à Alameda das Bandeiras, com falas das entidades e coletivos que construíram o Ato e Batalha das Gurias
19h40 – Apresentação de Encerramento: Fanfarras interpretam Elza Soares


  • Marielle Costa

    bora!

  • Ingrid Silveira

    Adorei seu texto pela simplicidade e pela imensa verdade. Seguimos em luta! Gratidão 🙂