Ontem uma foto no facebook me deu um arrepio na espinha. Um amigo postou sua indignação, que virou minha e de todo mundo: o bloco D da 308 sul, quadra modelo de Brasília, era mais uma vítima de reforma e os azulejos geométricos, parte da personalidade da quadra e da história da cidade, estavam sendo destruídos. Horror total.
Corri lá depois do almoço, pra me chocar pessoalmente, e o mestre de obras jurou com os pés juntos: os azulejos seriam trocados por outros idênticos, que o condomínio já havia encomendado. Suspiro de alívio, mas… peraí: e tinha que destruir os originais? O prédio precisava de um engenheiro, mas não de um restaurador? A julgar por um prédio já reformado na 308, em frente a um jardim do Burle Marx, o azulejo pode parecer igual, mas o resto… Um desalento.
O que acontece em Brasília é que, aos 52 anos, a cidade passa pela primeira leva de reforma nos blocos do Plano Piloto, a título de conservação – mas deveria se chamar depredação. É um festival de criatividade dos condomínios que, ao invés de respeitar a arquitetura e a história da cidade, resolvem embelezar as fachadas de acordo com o padrão estético do síndico. E haja granito, haja blindex, haja porcelanato. Alguns resolveram fazer grafismo na lateral dos blocos.
Essa história acabou me fazendo descobrir algumas coisas interessantes: uma é que os azulejos da 308 sul não são do Athos Bulcão, como eu sempre acreditei (informação dada pela Fundação Athos). Outra é que a quadra modelo – assim definida porque serve de referência urbanística e arquitetônica pra cidade – é duplamente tombada.
Além do tombamento do Iphan, que abarca o Plano Piloto inteiro e regiões próximas, a quadra é tombada pelo GDF desde 2009, junto com a 107, a 108 e a 307 sul, a biblioteca, o Clube Vizinhança, o Cine Brasília e até o posto policial. Nessa área, além do governo federal (por meio do Iphan), o GDF também se responsabiliza por fiscalizar e preservar as “características fundamentais que singularizam Brasília”, como diz o decreto do ex-governador Arruda.
O que acontece na prática? Segundo a Secretaria de Cultura do DF, quando um condomínio dessa área resolve fazer uma reforma, ele deve pedir um alvará à Administração Regional de Brasília, que, se achar necessário, consulta a Subsecretaria do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural. O que aconteceu no caso do bloco D da 308? A administração regional não achou necessário consultar a subsecretaria sobre uma reforma numa quadra duplamente tombada. Ah, tá.
E com essa cultura de não consultar os órgãos de patrimônio histórico, Brasília vai se descaracterizando e, pior, por decisão dos seus moradores. Claro que a culpa não é só dos síndicos, nem de quem mora nos prédios. A gente tem dois problemas maiores:
1. Falta fiscalização, do GDF e do Iphan, na parte que lhes cabe. Há um tempo, reinava a ideia de que o tombamento do Iphan era só “volumétrico”, ou seja: se não alterasse a forma dos edifícios, tudo bem. Hoje, a visão da direção do órgão é outra: Brasília inteira é tombada, inclusive seus edifícios, e o Iphan pode sim embargar uma reforma ou multar um condomínio caso a intervenção esteja fora das normas do tombamento. Mas sabe quantos técnicos o Iphan tem pra fazer essa fiscalização? Três. Isso agora, porque há três meses era só um fiscal.
2. Falta educação. “O Estado tem dificuldades para implementar, de maneira eficiente e generalizada, a educação patrimonial. No momento em que a pessoa entende a importância de preservar a estética e a história da cidade, ela mesmo toma a frente e não aceita a descaracterização”, disse o coordenador técnico da Superintendência do Iphan no DF, Thiago Perpétuo, numa conversa com o blog.
Agora, me pergunto: alguém aí no Estado, esse com E maiúsculo, vai se preocupar com isso? Que tipo de relação a gente vai ter com a cidade – ela vai ser afetiva, vai ter memória, história? Que identidade Brasília vai ter no futuro? Hoje, olhando em volta, dá tristeza. Porque não só o Estado, que não investe e não prioriza, mas a imprensa local e o brasiliense também parecem não se importar.
Bora?
Denuncie absurdos para:
* Iphan – Superintendência do DF
2024-6456
* GDF – Subsecretaria do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural
3325-6157 / 3325-6269
* Ministério Público – Ofício de Patrimônio Público
Núcleo de Atendimento ao Cidadão – 3313-5525 / 3313-5640
E se o assunto for reforma, respire fundo e participe da reunião de condomínio.
* Texto atualizado às 11h47.
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