Meu amigo Lula Lopes foi acordado hoje, e isso não é inédito, ao som da chamada irritante do vendedor de abacaxi pérola. O simples post dele no meu feed disparou aqui dentro do peito uma taquicardia de raiva. Eu fico super pouco em casa, mas sei como o abacaxi pérola pode ser capaz de arruinar seu momento de paz. Imagina ser acordado por ele.
Você sabe do que a gente está falando, não sabe? Aquela voz empostada de comunicador antigo, a mensagem em looping, “está passando na sua rua”, o cara te chamando de amiga-dona-de-casa… Quem é que quer ser chamada assim? Com quem você está falando, meu amigo? Você não está vendendo nada para ninguém, diz a verdade, seu negócio é apenas acabar com nosso dia. Sério, dá para imaginar alguém em casa, de boas, que ouve o chamado à amiga-dona-de-casa e prontamente decide descer pra comprar abacaxis? Opa!, abacaxis!, exatamente o que eu estava precisando!, consegue imaginar a cena? Eu não consigo. Só consigo imaginar emojis de olhinhos pra cima, um em cada apartamento, como eu e meu amigo Lula.
Será que tem como enquadrar o abacaxi pérola na lei do silêncio? Deveria ter – porque se funciona pros músicos que amamos nos bares que frequentamos, tem que servir pra tudo. Fiquei sabendo que igrejas e cultos têm sido enquadrados na famosa lei, e balancei entre o alívio pela igualdade de tratamento e uma tristeza grande pela nossa crescente dificuldade de conviver com o que não concordamos. Tipo eu, que discordo da estratégia de comunicação do abacaxi pérola.
A boa notícia é que a Câmara Legislativa se prepara para discutir flexibilizações nessa legislação, e a gente pode e deve interferir. Por mim, incluímos um artigo para limitar dias, horas e decibéis dos carros de som. Pode botar aí também: proibido chamar de amiga-dona-de-casa, proibido mensagens em looping.
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Guilherme Lobão de Queiroz
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Paulo Ellery
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Ana Luiza Chalub