Como você recebe quem chega na sua casa?

Em 06 de março de 2013 por Dani Cronemberger

distancia

Volta e meia a gente recebe uma mensagem de incentivo de algum leitor que, como nós, sentia falta de relatos mais afetivos e pessoais sobre a cidade. No meio dessas mensagens lindas, algumas chamam uma atenção especial: as dos recém-chegados a Brasília.

Um recado que a Manuela postou aqui, nesta semana, me transformou numa pessoa meio cafona – fiquei emocionada e saí distribuindo mensagens de amor por aí. É que, além de dar sentido ao blog e ao tempo que dedicamos a ele, já estive no lugar dela: estrangeira em uma cidade nova, longe dos amigos, da família, do lugar que chamo de “minha casa”.

Brasília é conhecida por aí como uma cidade fria, de grupos fechados, um lugar difícil pra quem quer fazer amizades. O planejamento urbanístico da cidade ajudaria a explicar a forma como nos relacionamos – as distâncias e os espaços vazios estariam também entre nós. Será?

É fato que Brasília não é uma cidade fácil de se chegar. Somos diferentes de tudo, não nos esbarramos na rua com facilidade, é preciso marcar hora e lugar, saber onde ir, saber quem encontrar. A cidade é singular e é natural que as relações sejam particulares também.

Mas me pergunto se alguma cidade é fácil de se chegar, quando se deixa tanta coisa para trás. Tenho amigos que reclamam da dificuldade de fazer amizade em São Paulo, no Rio, em Fortaleza. Adaptar-se a uma casa nova exige paciência e tempo. E a consciência de que lugar nenhum do mundo vai substituir a relação afetiva que você tem com a sua casa – e “casa” não é necessariamente a cidade onde você nasceu.

Tem que chegar de “cabeça aberta”, como a Manuela. Mas além da paciência e da abertura de quem chega, seria ótimo se tivesse também a delicadeza de quem recebe. Você recebe bem as pessoas que chegam na sua casa?

Bora?
Conhece alguém que mora em Brasília há pouco tempo e está meio perdido? Vai lá, faz um convite pra conhecer um lugar legal da cidade! Ou pelo menos sugira, mostre os caminhos. Se você já foi estrangeiro, sabe a importância de uma gentileza.
Foto: Coletivo Transverso

  • Temos de reconhecer que, com o tempo, a concepção urbanística da cidade e a distribuição espacial dos monumentos, mesmo que buscando o encontro, tornou-se elitista – para não dizer isolacionista. Basta olhar para as superquadras (uma idéia genial) para se dar conta do quanto o espaços públicos são praticamente ignorados pela população local. Escrevi sobre o tema neste texto, publicado no O Antropólico Maltrapilho; acho que ele dialoga com o seu: http://oantropolicomaltrapilho.blogspot.com.br/2013/03/a-angustia-de-oscar.html

    Um abraço,

    João Sassi

  • Carla

    Agora basta! Este post veio pra acabar de vez com o meu olhar voyeur, anônimo e distante para este blog maravilhoso, q acompanho desde o nascimento! É muito bom encontrar – ainda q num espaço virtual – pessoas q pensam, q falam, q se indignam, q instigam e… q SENTEM!!! Q post lindo! Veio em ressonância com o q venho concluindo ultimamente! Como é importante ser acolhido, cuidado, amado!!! Às vezes basta um sorriso para q, quem está chegando, se sinta em terreno amigo e amistoso! Eu sei bem disso… tb já fui “estrangeira” nesta terra!  Por tudo isso, gostaria de lançar a campanha: “Por onde quer q for, mais AMOR… por favor!”
    Obrigada, meninas, pela iniciativa deste blog, q está deixando esse quadrado, além de mais conhecido,  muito mais amoroso!!! ❤

    • Carla, que depoimento lindo, obrigada…! E ainda bem que você deixou o olhar distante de lado, apareça mais vezes, muito legar te “ouvir”. 🙂 A gente fica super feliz… beijo! <3

  • Desde pequena morei em cidades diferentes. Filha de militar, as mudanças erma constantes. Foi assim que Brasilia entrou minha vida. Em todas as cidades que morei, percebi a mesma coisa: a saudade de casa, do que é conhecido acaba por dificultar ou até impedir o entendimento com a nova cidade. Por entender isso muito bem, já ganhei irmão, primos, tios de vários lugares.. Todo apoio ao agasalho afetivo!

  • Aline Alonso

    Dani, muito lindo esse post! Delicadeza nunca é demais. Eu e meu marido sempre procuramos acolher o pessoal de fora. Somos carioca e tb já passamos pela dificuldade de casa nova. Já acolhemos tanta gente que inclusive “arrumamos” uma esposa (gaúcha) para o meu irmão! rss bjs

    • Obrigada, Aline! Adorei sua vocação casamenteira. 😉 beijo!

  • Cristiano

    Parabéns pela sensibilidade do Blog tratando dessas questões tão corriqueiras mas que são tão importantes. Sou de Brasília, sempre morei aqui e não pretendo me morar. Por isso sou um observador dessa cidade com olhos atentos, principalmente nessa questão dos novos moradores, aliás um fenômeno social que mereceria uma boa pesquisa rsss Sempre vejo histórias parecidas de quem chega aqui e sofre muito para se reencontrar, mas fico feliz de ver que os casos felizes são maioria. O agasalho afetivo é uma ideia ótima que poderia inclusive virar um site ou blog para essa galera interagir com quem já mora aqui rsss

    • Cristiano

      me morar -> me mudar rss

  • Débora

    acho que esse post pode iniciar uma campanha do agasalho afetivo. sempre ofereci minha mão a estrangeiros, pois também já fui (e ainda sou às vezes, não importa onde), e sei exatamente o valor da gentileza para quem está se adaptando em um novo lugar. quem se sentir estrangeiro e quiser marcar um café aqui em Brasília, conte com minha boa vontade! ó o e-mail: debcronemberger@gmail.com
    parabéns para esse blog que cresce em beleza a cada post.

  • Rê Sanches

    Apoiada, clap,clap, clap , 3 vivas e uma salva de palmas pra vcs!
    Uma cidade arquitetada por quadrados e retas, e não círculos e curvas sinuosas, leva tempo pra ser aprendida e apreendida.Mas para isso existe gente e locais como vcs e este blog.
    Tenho me engajado no movimento pare-de-resmungar-da-cidade-e-ame-Brasília.
    É incrível como há descobertas para todo dia, todo tipo, todos os bolsos e todos os sonhos.
    E quando tudo mais der errado, incorpora um Rei do Baião expresso e ” ♪
    ♫ Olha pro céu, meu amor. Vê como ele está lindo…♪♫. “.
    Beijo,

    • Cristiano

      É por aí mesmo! Encarar uma nova vida em uma nova cidade não é tarefa fácil, mas essa tarefa fica mais complicada ainda se a pessoa chega cheia totalmente armada, pronta para não gostar. Postura mental nesse caso é essencial. Gostar da cidade, do jeito diferente e especial dela, depende de estar de coração aberto para aceitar o novo, inclusive em relação ao jeitão das pessoas.

    • rsrsrs adorei o movimento pare-de-resmungar, isso aí! obrigada, Rê. beijo!

  • Também me identifico com essa caracterização de Brasília. É a segunda vez que moro em Brasília e essa mudança me fez refletir sobre as pessoas de fora que vem para cá.
    Postei algo parecido no meu blog: http://interessepelonovo.blogspot.com.br/2013/03/segunda-chance-para-brasilia.html
    Abraços!

    • Cristiano

      Oi Amanda!
      Parabéns pelo seu texto. Sua percepção foi na mosca nesse trecho:

      “por terem deixado família, namorados e amigos nas cidades de origem, voltam para elas na maioria dos finais de semana e feriados. Não se dão a chance de viver Brasília”

      Em resumo é isso o que acontece. As pessoas transferem muito para a cidade o incômodo de estarem longe de suas “casas” (familiares, afetivas, etc) e não se permitem vivê-la. Sinto isso especialmente com o pessoal que vem de Goiânia, que se pudesse pegaria estrada para dormir em casa todo dia rssss

      Mas é o que vc falou mesmo, viver Brasília significa criar laços com seus grupos, não se limitar a rotina trabalho/estudo e ficar pensando só na sua origem, mas se abrir de verdade ao que a cidade tem a oferecer

      • Bacana seu relato, Amanda, e que bom que você deu uma segunda chance à cidade. 🙂 beijos!