Só falta o sentido

Em 16 de novembro de 2012 por Carolina Nogueira

[vimeo http://www.vimeo.com/52478353 w=400&h=300]
Meu filho deu uma mordida no bolinho e perguntou: mamãe, isso aqui é mesmo o melhor da infância? Não fazia o menor sentido para ele – mas foi assim que ele escutou na televisão.

É um assunto que me toca duas vezes – como mãe e como a criança gordinha que eu fui. E gordinha é um termo babaca que a gente criou para continuar não vendo o problema. Um terço das crianças brasileiras entre cinco e nove anos são obesas. Não são fofinhas, não. Nem gordinhas. São obesas mesmo.

E são dois lados cruéis de uma mesma moeda. Porque de um lado, a sociedade – a brasileira então, nem se fala – nos cobra corpos perfeitos. Um pouco magra demais ou um pouco gordinha demais e você não cabe. Na adolescência, então, quando um corte de cabelo pode definir quem você é e quem são seus amigos, imagina ter cinco, ou dez, ou vinte quilos a mais do que se deveria.

Por outro lado, é essa guerra que o trailer aí em cima mostra: nós e nossas crianças, bombardeados por essa máquina de ser feliz chamada açúcar. Descobri há pouquíssimo tempo que açúcar é um produto químico – que tem tanta cana na sua composição quanto a fanta tem laranja. Produto químico empacotado de felicidade e despachado diariamente, em suas milhares de variações diferentes, diretamente para nossas despensas.

O filme “Muito além do peso” choca porque coloca a luz lá onde a gente não quer ver. Damos chocolate como recompensa e batatinha frita para calar as crianças reclamonas. Substituímos a fruta pelo pacotinho de bolo porque não precisa descascar nem tirar semente.

“Eu achava que essa coisa da criança não distinguir uma batata de outro legume era coisa de documentário americano”, disse Estela Renner, a diretora do filme, à revista TPM. “Quando vimos que isso era realidade aqui também, percebemos que faltava esse tipo de material, então a gente foi lá e fez. Justamente pra tentar entender porque o ambiente alimentar infantil brasileiro mudou tanto nos últimos anos”.

O filme está em cartaz em curtíssima temporada aqui em Brasília. Além da responsabilidade de pais, tios, avós que temos todos, muitos de nós, brasilienses, estamos em postos-chave de esferas onde são pensadas políticas públicas e discutidos projetos de lei. Taí um tema que não pode ser ignorado.

Bora?
“Muito além do peso”, de Estela Renner
Espaço Itaú de Cinema
Até 22 de novembro, sessão única às 17h20

  • Gabi

    Perdi o filme… mas a minha preocupação com o que entra em casa, só aumentou…
    É uma tristeza que tudo no mercado seja entupido de açúcar, e, quando não é, seja caro! Estou com o senhorzinho que diz que qualidade não pode custar caro.. mas custa…

  • patricia cavalcante

    Parabéns pelo blog. Fico super feliz ao me deparar – como diz você – com “exceções” como esse blog. Quem me falou sobre o Quadrado foi a queridíssima Janaína, fotógrafa, que foi ao meu ateliê fazer fotos para uma reportagem. Adorei o formato, a linguagem e, claro, o conteúdo. Brasília necessita muitíssimo de pessoas como vocès, fazendo esse tipo de trabalho e, por que não, lazer. Um grande abraço. Só queria mesmo demonstrar minha satisfação. Já sou seguidora. Patricia

  • Essa frase dita por uma criança….”falta sentido” me chocou…
    A reflexão feita pelo Quadrado é perfeita: “colocar a luz onde não queremos ver…”
    É isso mesmo…trocamos a fruta da lancheira pelo bolinho industrializado ou o pacotinho de bolacha…e ainda dizemos que é mais prático…será?
    Assisti o filme e recomendo a todos que tenham criança em casa ou na família, vale a pena.