A nossa primeira separação

Em 12 de agosto de 2013 por Dani Cronemberger

rosa

Eu tinha 22 anos quando me separei de você pela primeira vez. Foram seis anos longe, vivendo outra história, conhecendo outras pessoas. Seis anos que mudaram tudo: foi o tempo de sair do automático, de começar a te olhar te olhando e a prestar atenção no que importa – os detalhes.

Hoje eu entendo que nada foi mais importante para a nossa relação do que o afastamento. Sim, porque a nossa relação começou fácil demais. Eu me deixava levar, não achava a rotina ruim, nem boa, não costumava questionar as coisas. Era muito nova pra isso, tinha pouca experiência, nenhuma referência. E tudo ia bem, bem sem sal.

Foi preciso me afastar de você, Brasília, para me aproximar com mais verdade e mais presença. Não sei se vamos precisar de outra separação tão longa assim de novo. Mas, hoje, reconheço no afastamento-aproximação o movimento cíclico e permanente que não só vai, como deve nos acompanhar sempre, para o bem da nossa relação.

Reconheço esse processo nas minhas viagens de férias. Sair de você é tão importante pra mim quanto voltar pra você, porque hoje entendo que lugar nenhum do mundo me faz me sentir assim: em casa. E o afastar não precisa ser necessariamente geográfico. Pode ser um distanciamento de olhar, uma pausa para balanço.

Neste ano tive uma conversa com um lama budista que ficou em mim por muito tempo. Estávamos hospedados na mesma casa e abrimos uma cerveja antes de dormir (sim, lama bebe cerveja, mas só uma – ele é sábio). Estava filosofando sobre dúvidas existenciais, quando ele me chamou a atenção para o movimento de afastamento-aproximação, que é constante em toda e qualquer relação duradoura.

“É importante saber que o afastamento não é uma rejeição ao outro, pelo contrário”, ele me disse. Pelo contrário? Sim, pelo contrário. Em algum momento, é preciso afastar o olhar do outro e focar a atenção em si. O que vem depois, te garanto, pode ser muito melhor e verdadeiro. Viu, Brasília? Tenha um pouco de paciência com as minhas pausas. Eu vou, mas eu volto.

  • Pingback: O pânico pede coragem | quadrado()

  • Thais

    Lindo texto! Às vésperas de voltar pra Brasília – é tudo que eu
    precisava ouvir ou melhor, ler!

  • Andréa

    Lindo texto!

  • Lisaura Cronemberger

    Que bom que voltou! Senti muito a sua falta no Quadrado, não sei se você sabe, mas sou sua fã! Mas tem razão, afastar-se um pouco das coisas e pessoas depura a visão e o sentimento. O essencial volta a se destacar quando estamos mais de longe…

  • Bianca

    Fantástico texto! Boa semana pra você! (:

  • Sandro Biondo

    Achei ótimo! Vivi a mesma experiência por dois anos e senti exatamente o mesmo ao voltar.

    • É ótimo poder tirar coisas boas das experiências, ne? 😉

  • pedernique

    Uma trilha do Tom Zé pro seu post Dani

    Suavemente prá poder rasgar
    Olho fechado prá te ver melhor
    Com alegria prá poder chorar
    Desesperado prá ter paciência
    Carinhoso prá poder ferir
    Lentamente prá não atrasar
    Atrás da vida prá poder morrer
    Eu tô me despedindo prá poder voltar

  • Que bom que voltou por aqui também!!! E concordo: não só para cidades, como para pessoas, situações, empregos…. todo afastamento é importante pra te deixar ver as coisas sob novos pontos de vista, livres de interferências rotineiras.