Graças aos céus, os artistas continuam sendo artistas mesmo em períodos sombrios – alguns, inclusive, se tornam melhores. A gente precisa deles mais do que nunca, então aí vai a dica para salvar seu novembro: mergulhe no BIFF – Brasília International Film Festival.

O festival começa nesta sexta (9) e vai até o dia 18, com uma seleção muito boa passando no Cine Brasília, no Liberty Mall e no SESC Ceilândia. A abertura, só pra convidados, vai ser com o esperado BlacKkKlansman (no Brasil, Infiltrado na Klan), do Spike Lee. Se não rolou convite, não deixa de assistir quando entrar em cartaz, o que deve acontecer no dia 22. Pode não ser o filme mais genial dele, mas fala sobre o passado dizendo muito sobre o presente. Acho que, por isso mesmo, faz rir e chorar.

São 40 filmes de 27 países, no total. É uma boa oportunidade de assistir a longas recém-lançados e assinados por jovens diretores premiados – este foi o foco da curadoria neste ano. São duas mostras competitivas (ficção e documentário) e três paralelas: Mundo Animado, para o público infantil, Mostra Spike Lee e Memória BIFF.

Além disso, vai dar pra pegar três pré-estreias importantes: “Guerra Fria”, do polonês Pawel Pawlikowski, que ganhou o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes deste ano; “Utoya – 22 de julho”, do norueguês Erik Poppe, indicado ao Urso de Ouro em Berlim; e o ultra-polêmico “A Casa que Jack Construiu”, do Lars Von Trier (este, que provocou repulsa por onde passou pela crueldade e misoginia, eu passo).

Um que já anotei na lista (foto acima) é “O Silêncio dos Outros”, dirigido por Almudena Carracedo e Robert Bahar, e produzido por Pedro Almodóvar. Muito premiado, o filme acompanha as vítimas da ditadura franquista e discute a lei de anistia espanhola, conhecida como “Pacto do Esquecimento”. Assim como no Brasil, acreditou-se que o silêncio seria a solução, um “deixar tudo para trás” para que o país pudesse “seguir em frente”. O que se vê, décadas depois, são feridas ainda abertas, impunidade revoltante e sofrimento prolongado.

Vai ser doído ver esse filme, mas necessário. É com arte e encontro que a gente se cura, tenho pensado nisso em ritmo de mantra.