Rollemberg, por favor, mude o nome da ponte

Em 01 de abril de 2015 por Dani Cronemberger

ponte

No dia em que o golpe militar completou 51 anos, dez escolas do Maranhão que homenageavam pessoas acusadas dos mais diversos e terríveis crimes contra os direitos humanos foram rebatizadas, numa decisão bonita do governador Flávio Dino.

Por que diabos estou falando do Maranhão? Porque cá estamos, 51 anos depois das atrocidades que todos nós sabemos quais foram, e a nossa ponte Costa e Silva continua homenageando o presidente dos “anos de chumbo”. O responsável pela morte do resto de liberdade política e de imprensa que ainda resistia, pelo AI-5, pela profissionalização da tortura, dos assassinatos e dos desaparecimentos: é esse o cara homenageado por uma obra pública na nossa cidade. Até hoje.

Uma das recomendações do relatório final da Comissão da Verdade, divulgado no final do ano passado, é de que os governos (federal, estaduais e municipais) mudem os nomes de locais públicos que homenageiam pessoas ligadas à ditadura e responsáveis por crimes contra a humanidade. Em alguns lugares, o Ministério Público e entidades de direitos humanos já estão atuando para isso, mas não deveria ser necessário o esforço de promotores ou campanhas populares, deveria?

Não, mas tudo bem. Aqui já teve gente se mobilizando pela mudança do nome da ponte. Em 2012, estudantes do Levante Popular da Juventude do Distrito Federal fizeram um ato rebatizando a ponte de Honestino Guimarães. Um pouco antes, o Coletivo Transverso fez uma intervenção ótima e a placa ganhou o nome de Ponte Bezerra da Silva. Muito melhor, não?

Iluminados por essas ideias, os deputados distritais aprovaram um projeto de lei no fim de 2012, garantindo que a população escolheria o novo nome da ponte, dentre 14 opções. Eba, finalmente, é isso aí! Só que não. Você sabia que o ex-governador Agnelo Queiroz vetou esse projeto? Eu não sabia, não li em lugar algum, só descobri agora, pesquisando para este nobre texto. Pois é, foi vetado e nunca mais se falou no assunto.

O fato é que não deveria precisar de projeto de lei, de Ministério Público, de pressão popular, deste post, de nada: bastaria o mínimo de consciência política, de respeito à história e aos direitos humanos por parte de um governador qualquer. Espero que seja você, Rollemberg.

Só do relatório da Comissão da Verdade é possível tirar 434 ideias de um novo nome para a ponte – esse é o número de mortos e desaparecidos políticos listados no documento. Gente como o Epaminondas de Oliveira, artesão e líder camponês sequestrado no interior do Maranhão em 1971 e morto sob tortura nas dependências do Exército, em Brasília. Epaminondas tinha 68 anos, e seus restos mortais só foram entregues à sua família no ano passado.

Vamos pra rua?
Em tempos de polarização política, a defesa da democracia deveria ser unanimidade, e assustadoramente não é. Quero crer que aqueles que defendem a ditadura e um novo golpe militar sejam poucos e sofram de um transtorno psíquico grave, mas o simples fato deles existirem já torna essencial a manifestação de hoje, que vai acontecer na Praça dos Três Poderes.

O nome do evento é: “Samba da Resistência – ditadura nunca mais, por verdade, justiça e memória”. Em qualquer época, a memória é importante para nos lembrar do que somos capazes e do que não queremos ser. Numa época como esta, lembrar é fundamental. Além de tudo, será um protesto artístico, com samba e amor. Vai ser lindo.

Bora?
Samba da Resistência
Hoje, na Praça dos Três Poderes, 18h30
Evento no face: aqui

  • Ana Claudia

    Acho que não deveria dar nomes de pessoas a nenhuma monumento, pois ninguém é unânime, que tal dar nome de referências como natureza, animais e outros?

  • Até agora, foram mais de 3 mil compartilhamentos no facebook. Muito obrigada! Beijos

  • Adriana

    Sou Brasiliense de coração e nascimento e acho que a ponte e seu nome fazem parte da história da cidade. Mas se incomoda alguns por que não mudar…..

    Mas agora é hora???
    Tantos problemas sérios, escassez total de recursos..

    Agora me incomoda falta de escolas, falta de saúde, impostos abusivos e péssimos serviços públicos.

    Investir dinheiro público em mudança de nome de ponte em plena crise…. e ainda com sugestão de
    Homenagear aqueles lutaram pela ditadura do proletariado. … Sair do 8 pro 80…. Sou Contra qualquer Ditadura!!!

    E não venham com inversão e mudança de história de dizer que lutaram pela liberdade …. na real: a luta foi pela implantação da ditadura do proletariado….

    Os militares erraram e muito, mas os guerrilheiros também. ..

    Em guerra civil ou militar não tem certo e errado: tem lados opostos. E o saldo final : a pátria perde sempre!! !

    Nada de revanchismo! !!
    Sentimento pequeno!!!!

    Se é pra mudar de nome que seja em época de “vacas gordas” e não agora e que seja para homenagear alguém que por unanimidade seja considerado (a) nobre e grande de espíritos em todos os aspectos.
    E por ser ponte que tal alguém que realmente tenha construido “ponte nobre” para o país ou para a cidade, pessoa que tenha ligado uma lacuna a uma solução de fato: ponte de educação, ponte de saúde, ponte de arte, ponte de esporte, ponte de amor ao próximo … que seja orgulho de todo e qq brasiliense!!!

    Opinião de brasiliense que ama essa terra!!!!

    Mais amor !!!!

  • Luiz Cláudio Canuto

    Por partes. Apenas quatro.

    1) A decisão do governador Flávio Dino não foi bonita. Foi casuísta, tola e revanchista. O casuísmo está na data e a tolice e o revanchismo estão em tentar apagar da História nomes de presidentes do Brasil em cujas gestões aquelas escolas foram construídas, salvo engano (de 1988 pra cá que elas não foram construídas, certo?). Não deixa de ser uma medida cínica para melhorar a educação do Maranhão, né? E agora? Eu respondo: o governo do comunista Flavio Dino vai gastar os tubos com tinta apenas para trocar os nomes!! E a Educação do Maranhão vai continuar porca do mesmo jeito. Mas pra quê melhorar, se o público curte bobagens assim?

    2) A medida usa o mesmo peso para medidas diferentes. Revoltar-se com escolas que se chamam Costa e Silva ou Presidente Médici é bastante compreensível. Mas CASTELO BRANCO??? O general era da tchurma da Sorbonne. Os outros dois eram da linha-dura. Culpar Castelo Branco pelo que veio em seguida, no momento crítico de 1964 em que a democracia faliu por falta de quem a defendesse, é como Dilma culpar Fernando Henrique pela corrupção na Petrobrás! Flavio Dino botou no mesmo balaio presidentes de estirpe diferente. No mínimo, deseducativo. Mas que importa?

    3) Ao trocar os nomes, optou-se por… OUTROS NOMES!! Jackson Lago?? Paulo Freire?? Um está vivo e jamais poderia nomear uma escola. O outro é aquele plagiador lavador de cérebros que espalhou o semi-analfabetismo países miseráveis afora. Ora, bolas, por que não um Centro Educacional Machado de Assis? Por que não um Centro de Ensino Lima Barreto?? Uma Unidade de Alfabetização Bruno Tolentino?? Um Núcleo Escolar Mario Faustino?? A medida, revanchista, poderia pelo menos não se revelar tola. Mas se entregou de cara.

    3) Agora, sim, a Ponte Costa e Silva… Na boa, aposto que nem 0,5% das pessoas relaciona o nome ao general quando fala o nome dela: é Costa e Silva e pronto. Pegou! Fim! Eu nem lembro de general algum. No passado, o Parque da Cidade era chamado de Pitón e ninguém lembrava daquele moleque chamado Rogério. Eu preferia que tivesse continuado Pitón, um apelido carinhoso, o nome de uma espécie de cobra até. O nome Pitón foi apagado em nome do insosso “Parque da Cidade”. Sou contra a ponte “nova” (outro apelido) mudar de nome e mesmo se chamar Renato Russo, como algum jeca sugeriu, mesmo eu gostando de Renato Russo. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Lembra quando quiseram homenagear Tom Jobim apagando Vieira Souto? A ridicularia foi tamanha que o jeito menos deselegante de se render foi acrescentar Tom Jobim no Aeroporto de Galeão. E só quem quer gastar saliva fala o nome todo. O Brasil é um país jeca. Agnelo vetou a mudança do nome da ponte?? Não sabia. Mas aplaudo Agnelo. Se ele não caiu nessa esparrela é porque até o sensor do ridículo dele explodiu.

    4) A Comissão da Verdade, citada por você, é aquela que violou seu próprio ato de criação, e, em seu péssimo relatório final, ignorou mais de 100 cadáveres, tratados como párias, porque foram inocentes mortos em favor de uma ideologia que queria implantar outro tipo de ditadura no Brasil, como já admitiu Fernando Gabeira num célebre vídeo (ei-lo: https://www.youtube.com/watch?v=8VtXhnxWHC0 ). A Comissão da Verdade criou sistema de castas para cadáveres, enobrecendo os seus, não os mortos pelos guerrilheiros, a maioria civis de fora da luta. Essa Comissão não vale uma missa, tampouco as recomendações dela. Triste é concluir que até cadáveres de trabalhadores ou gente inocente são colocados abaixo de cadáveres de muitos assassinos no país da Pátria Educadora. Mas viva Paulo Freire!

    • Carol

      estou com você e com o Agnelo!!! Adorei o que você disse:
      “Agnelo vetou a mudança do nome da ponte?? Não sabia. Mas aplaudo Agnelo. Se ele não caiu nessa esparrela é porque até o sensor do ridículo dele explodiu.”
      Estava achando que só eu tinha um pouco de senso!!! Graças a Deus encontrei você Luiz Claudio

    • Alberto

      Parabéns Luiz Cláudio Canuto !
      Esse discurso de quem hoje reclama à partir de seu lar confortável, tentando apagar parte da história já cansou …

  • Acho que para todo mundo ficar feliz, batiza a ponte de João Goulart e acaba com a polêmica do péssimo Memorial em frente ao Memorial JK! ;^)

  • Jonas Bertucci

    Excelente a proposta. Essa é uma mudança simples, não requer muitos recursos e tem uma importância simbólica tremenda!

    • antonio mauricio

      A proposta e inadequada, pois parte de uma versão distorcida da historia. O nome ditadura militar foi um qualificativo depreciativo formulado pela esquerda, deturpando o próprio conceito de ditadura. Aliás, que ditadura tem alternância de poder? Pense nisso.

  • Edu

    Que tal Ernesto Guevara? Ai todo mundo fica feliz!

  • Marcel Rates

    O único problema é ver e narrar a história apenas de um lado…

  • Ana Chalub

    Estamos em sintonia, Dani: publiquei hoje mesmo um post com a notícia sobre a atitude do governador Flávio Dino e sugerindo que nossa ponte também seguisse o mesmo caminho! Acho o fim da picada homenagear esse torturador até hoje!

    • Ana, foi seu post mesmo que me lembrou de escrever sobre isso. 🙂 Estava adiando há tempos, valeu pela lembrança!

    • Antonio Mauricio

      Prezada, você sabia que muitos torturados mentiam quando diziam que o tinham? Para os guerrilheiros, era muito importante terem no currículo prisões e torturas sofridas

  • Quito Rossi

    Concordo totalmente com a Dani. É um absurdo essa ponte ainda ter o nome de um ditador. Acho que colocar o nome do Honestino Guimarães seria perfeito, porque é uma vítima da ditadura aqui mesmo em Brasília.

    • Antonio Mauricio

      Costa e Silva Ditador? Pelo o que aprendi na historia ele foi eleito pelo Congresso para mandato que foi exercido nos ter ml os da Constituiçao. Em tempos de comissão da inverdade, os brasileiros devem repensar de onde veio o termo Ditadura Militar. Que ditadura e essa que tem alternância no poder? Estranho ne. Ditadura foi um termo imputado pelo esquerda com fim de estigmatizar o regime como algo ruim, o que não foi para grande parte do pais. Os únicos que teriam algo justo a reclamar seria os jornalistas, que sofreram censura. De resto, nada. O Brasil passou de 40a. Economia para 8a. Sabia?

  • Olha, normalmente eu sou um grande opositor da superniemeyerização de Brasília, mas acho que essa ponte deveria se chamar Ponte Oscar Niemeyer.