No dia em que o golpe militar completou 51 anos, dez escolas do Maranhão que homenageavam pessoas acusadas dos mais diversos e terríveis crimes contra os direitos humanos foram rebatizadas, numa decisão bonita do governador Flávio Dino.
Por que diabos estou falando do Maranhão? Porque cá estamos, 51 anos depois das atrocidades que todos nós sabemos quais foram, e a nossa ponte Costa e Silva continua homenageando o presidente dos “anos de chumbo”. O responsável pela morte do resto de liberdade política e de imprensa que ainda resistia, pelo AI-5, pela profissionalização da tortura, dos assassinatos e dos desaparecimentos: é esse o cara homenageado por uma obra pública na nossa cidade. Até hoje.
Uma das recomendações do relatório final da Comissão da Verdade, divulgado no final do ano passado, é de que os governos (federal, estaduais e municipais) mudem os nomes de locais públicos que homenageiam pessoas ligadas à ditadura e responsáveis por crimes contra a humanidade. Em alguns lugares, o Ministério Público e entidades de direitos humanos já estão atuando para isso, mas não deveria ser necessário o esforço de promotores ou campanhas populares, deveria?
Não, mas tudo bem. Aqui já teve gente se mobilizando pela mudança do nome da ponte. Em 2012, estudantes do Levante Popular da Juventude do Distrito Federal fizeram um ato rebatizando a ponte de Honestino Guimarães. Um pouco antes, o Coletivo Transverso fez uma intervenção ótima e a placa ganhou o nome de Ponte Bezerra da Silva. Muito melhor, não?
Iluminados por essas ideias, os deputados distritais aprovaram um projeto de lei no fim de 2012, garantindo que a população escolheria o novo nome da ponte, dentre 14 opções. Eba, finalmente, é isso aí! Só que não. Você sabia que o ex-governador Agnelo Queiroz vetou esse projeto? Eu não sabia, não li em lugar algum, só descobri agora, pesquisando para este nobre texto. Pois é, foi vetado e nunca mais se falou no assunto.
O fato é que não deveria precisar de projeto de lei, de Ministério Público, de pressão popular, deste post, de nada: bastaria o mínimo de consciência política, de respeito à história e aos direitos humanos por parte de um governador qualquer. Espero que seja você, Rollemberg.
Só do relatório da Comissão da Verdade é possível tirar 434 ideias de um novo nome para a ponte – esse é o número de mortos e desaparecidos políticos listados no documento. Gente como o Epaminondas de Oliveira, artesão e líder camponês sequestrado no interior do Maranhão em 1971 e morto sob tortura nas dependências do Exército, em Brasília. Epaminondas tinha 68 anos, e seus restos mortais só foram entregues à sua família no ano passado.
Vamos pra rua?
Em tempos de polarização política, a defesa da democracia deveria ser unanimidade, e assustadoramente não é. Quero crer que aqueles que defendem a ditadura e um novo golpe militar sejam poucos e sofram de um transtorno psíquico grave, mas o simples fato deles existirem já torna essencial a manifestação de hoje, que vai acontecer na Praça dos Três Poderes.
O nome do evento é: “Samba da Resistência – ditadura nunca mais, por verdade, justiça e memória”. Em qualquer época, a memória é importante para nos lembrar do que somos capazes e do que não queremos ser. Numa época como esta, lembrar é fundamental. Além de tudo, será um protesto artístico, com samba e amor. Vai ser lindo.
Bora?
Samba da Resistência
Hoje, na Praça dos Três Poderes, 18h30
Evento no face: aqui
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Ana Claudia
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Adriana
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Luiz Cláudio Canuto
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Carol
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Alberto
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Urbanistas por Brasilia
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Jonas Bertucci
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antonio mauricio
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Edu
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Marcel Rates
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Ana Chalub
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Antonio Mauricio
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Quito Rossi
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Antonio Mauricio
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