Resistimos bravamente, eu e Carol, às eleições de 2014 sem escrever aqui uma linha sobre política. Apesar de ser um assunto de interesse das duas, nunca nem sequer discutimos essa possibilidade, era ponto pacífico não poluir o nosso amado blog com esse clima insuportavelmente chato de Fla x Flu que domina o noticiário.
Eis que a ebulição política não acaba e, a todo momento, tenho a impressão de que dormi e acordei em outubro passado. Seria pedir demais que mudássemos de assunto, finalmente? Que eu pudesse me dedicar, em tempo integral, às fotos e aos vídeos dos meus lindos gatinhos peludos e bigodudos?
Joguei a toalha hoje, admito. Mas não se preocupe, não vou xingar ninguém de petralha nem de coxinha, já ultrapassei os 5 anos de idade. Eu apenas gostaria de lamentar. Sim, vim aqui só pra reclamar: que bando de chatos a gente se tornou.
No auge da campanha eleitoral e do surto psicótico coletivo, tive de tirar dezenas de amigos da minha timeline do facebook, como única forma possível de manter minha sanidade mental (pra quem não conhece o serviço “deixar de seguir Fulano”, que é mais sutil do que o bloqueio, recomendo fortemente).
O critério para o corte não era o Fulano votar em B ou C, era o nível de amargura e de ódio destilado por centímetro quadrado, além do nível de desinformação e de capacidade de compartilhar notícias duvidosas ou evidentemente falsas. Em certo momento, fiquei com medo de só sobrar eu mesma na minha timeline – seria a prova do grau de sandice alheia ou da minha própria intolerância?
Baixada a poeira, refleti um pouco sobre a arena de MMA em que se transformou a nossa vida virtual e percebi em mim atitudes que eu criticava nos outros. A arrogância esteve lá, disfarçada de razão. A discordância, muitas vezes, foi recebida como uma crítica pessoal – nesse caso, eu defendia a mim mesma, e não um projeto político. Nem sempre a discussão em si me importou tanto quanto sair vitoriosa na discussão. Mas ok, as eleições haviam passado, essa conversa iria evoluir.
Esse é o ponto, senhoras e senhores. Essa é a grande chatice dos tempos atuais: a conversa não evolui, nos tornamos fanáticos por tempo indeterminado. Os que defendem e os que atacam, todos fanáticos. Ok, nem todos, mas uma boa parcela, aquela que ainda vive em outubro de 2014. Aquela que ainda não se tocou que colocar o estômago numa discussão faz turvar completamente a visão. Aquela que ainda escuta uma opinião diferente e entende como uma ataque à sua pessoa e à sua tão amada inteligência.
Seja de que lado for, transformar a discussão política em uma briga pessoal, em assunto único e obsessivo, é abraçar o amargor e a raiva por tempo demais. Quem discute uma dualidade qualquer, sem se dar o direito a nuances, a contextualizações, a dúvidas antes de certezas, não está disposto a compreender o mundo, só a cuspir nele.
Vociferar sempre foi uma estratégia de quem não consegue dialogar. A desmoralização, a chacota e a humilhação do time oposto vêm junto com o grito. Porque somos muito adultos e ainda lidamos com política como se estivéssemos em uma torcida organizada: eles contra nós. E nós, claro, temos sempre razão.
Bom, apesar das eleições nunca chegarem ao fim, é possível sobreviver a isso, sim. Grandes amores da minha vida votam diferente de mim, e continuam sendo grandes amores (assim seja). Não é o voto que destrói a admiração, claro que não. É todo o resto. E é de todo o resto que estou cansada. Chatos, todos chatos. Envenenando a própria vida e a vida dos outros com ódio demais, à toa demais.
Foto: KennethSolfjeld
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