A moça que ajudou meu filho a colocar a bike dele na passagem subterrânea – e provocou: “agora quero ver se você sabe andar nesse negócio”. E ele cruzou a passagem todo orgulhoso, encontrou com ela de novo na rampa de subida, deu tchau e me disse em seguida: “eu gostei dela”.
O senhor que acudiu meu outro filho quando ele escorregou na lama, voltando no seu rumo apressado de quem tem um busão de fim de tarde pra pegar – só pra perguntar se estava tudo bem. Estava, sim. E estava bem melhor agora com essa demonstração gratuita de cuidado e carinho com o outro.
O moço que leva o cachorrinho dele pra passear com um sapatinho em cada pata. Um outro levando a namorada enquanto pedala, sentada de ladinho na barra da bike. O menino que desce todo dia pra tocar flauta no banquinho da quadra.
Um cogumelo bizarramente grande que cresce no canteiro da 908 sul. Carcarás no canteiro central do eixão. Florzinhas amarelas minúsculas que chovem quando o vento bate, me fazendo pensar numa neve tropical. Um besouro se debatendo de costas. Formigas, milhares de formigas, no esforço mecânico de levar folhinhas pra cá e folhinhas pra lá.
Recém-mamães com seus recém-nascidos passeando de carrinho ou de sling, com suas caras mezzo-perdidas mezzo-exultantes de quem ainda está se encontrando nessa nova função, que é a mais divertida do mundo. Ciclistas companheiros que, quando conseguem a atenção de um motorista que lhes permita atravessar na entrequadra, seguram o trânsito com o superpoder de sua mão levantada, para que os outros ciclistas passem também.
O ridículo que é o trânsito que se forma no final da tarde em torno do balão da 402 norte. Quantas vezes eu estive do lado de dentro de um daqueles carros – é preciso ver de fora, do alto, aquele balé lento e calorento, pra se dar conta do quanto os carrinhos se parecem com as formigas.
Coisas que pra modi vê o cristão tem que andar a pé. E de que eu não estou disposta a abrir mão por nada. Muito menos por medo.
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