Sobre ser solteiro em Brasília

Em 16 de outubro de 2013 por Carolina Nogueira

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Giovanni, mudar de cidade e recomeçar a vida em outro canto é difícil mesmo. Diogo, posso dizer de causa própria: voltar é ainda mais desafiador. Mariana, às vezes, procurar um parceiro é mesmo desanimador – quem nunca teve um coração quebrado que atire a primeira pedra.

Mas, por favor, não acreditem nos que te dizem que é um problema de cidade. Desconfie de quem coloca todos vocês sob o mesmo (antiquado) rótulo. Mais: não acreditem nos que encaram a decisão de estar solteiro como um problema.

Pegaram um dado isolado, que diz que 51,7% dos que vivem aqui são solteiros, e transformaram isso num sinônimo para cidade desagregadora, que dificulta relacionamentos. Por favor, alguém me explica qual a ligação desta estatística com a conclusão de que toda esta gente está desesperada e infeliz – porque o simples número de solteiros somado a algumas entrevistas não sinaliza nada. Na melhor das hipóteses, é desespero para fechar uma pauta.

Seja como for, não acreditem neles.

Se identificar com essa mentira é acreditar que já era. É se fechar numa bolha de amargura em que muitos vivem – e para onde parecem procurar cúmplices. Gente para alimentar a má reputação de uma cidade que é adorada por 59% de seus moradores. De onde 72% de seus habitantes não pensam em sair por nada. Isso, ironicamente, segundo pesquisa realizada meses atrás pela mesma publicação.

Cidade de gente que tem uma turma de infância, outra turma do inglês, uma turma da escola, outra turma da faculdade. Cidade que casou muito mineiro com gaúcho, brasiliense com francês, carioca com pernambucano – isso há já algumas gerações.

Lugar de gente que inventou uma plataforma virtual para fazer as pessoas se conhecerem e interagirem entre si. Cidade de gente que inventa eventos para agregar pessoas, fazer a gente dançar, celebrar a paisagem da cidade.

A menina não ligou no dia seguinte? Liga pra ela! Um conhecido de vista não te cumprimenta na night? Fala com ele! O carro te segrega do mundo? Cara, vai de bike! Vai de busão! É possível!

Colocar a culpa da sua vida sentimental na cidade? Jura? Meu facebook ontem pipocou de conselhos: “é falta de grana pra terapia”, analisou o Felipe. “Se mexe, santa”, orientou a Fernanda.

Eu dou outra ideia: bora pegar leve com Brasília – e, na boa, com qualquer outra cidade onde a gente vá morar. Já temos idade suficiente pra saber que a vida é resultado do que a gente faz dela. Aqui ou na China.

Não acredita em gente amarga, não. Deixa eles lá na bolhinha deles – e vem ser feliz com a gente.