Eu tinha 22 anos quando me separei de você pela primeira vez. Foram seis anos longe, vivendo outra história, conhecendo outras pessoas. Seis anos que mudaram tudo: foi o tempo de sair do automático, de começar a te olhar te olhando e a prestar atenção no que importa – os detalhes.
Hoje eu entendo que nada foi mais importante para a nossa relação do que o afastamento. Sim, porque a nossa relação começou fácil demais. Eu me deixava levar, não achava a rotina ruim, nem boa, não costumava questionar as coisas. Era muito nova pra isso, tinha pouca experiência, nenhuma referência. E tudo ia bem, bem sem sal.
Foi preciso me afastar de você, Brasília, para me aproximar com mais verdade e mais presença. Não sei se vamos precisar de outra separação tão longa assim de novo. Mas, hoje, reconheço no afastamento-aproximação o movimento cíclico e permanente que não só vai, como deve nos acompanhar sempre, para o bem da nossa relação.
Reconheço esse processo nas minhas viagens de férias. Sair de você é tão importante pra mim quanto voltar pra você, porque hoje entendo que lugar nenhum do mundo me faz me sentir assim: em casa. E o afastar não precisa ser necessariamente geográfico. Pode ser um distanciamento de olhar, uma pausa para balanço.
Neste ano tive uma conversa com um lama budista que ficou em mim por muito tempo. Estávamos hospedados na mesma casa e abrimos uma cerveja antes de dormir (sim, lama bebe cerveja, mas só uma – ele é sábio). Estava filosofando sobre dúvidas existenciais, quando ele me chamou a atenção para o movimento de afastamento-aproximação, que é constante em toda e qualquer relação duradoura.
“É importante saber que o afastamento não é uma rejeição ao outro, pelo contrário”, ele me disse. Pelo contrário? Sim, pelo contrário. Em algum momento, é preciso afastar o olhar do outro e focar a atenção em si. O que vem depois, te garanto, pode ser muito melhor e verdadeiro. Viu, Brasília? Tenha um pouco de paciência com as minhas pausas. Eu vou, mas eu volto.
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