Tchau, Oscar

Em 06 de dezembro de 2012 por Carolina Nogueira

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Eu te vi pela primeira vez em Paris. Eu estava perdida e esbarrei em uma exposição sobre você no Jeu de Pomme. De longe eu via o cartaz com um céu e uns prédios conhecidos demais para fingir que não era comigo.

Além de desenhos e maquetes, havia uma sala de vídeo – e eu, que nunca vejo as projeções das exposições, vi aquela. Fiquei longos minutos te ouvindo falar e chorando, sem saber porquê. No meio de uma viagem de um mês, sozinha pela Europa, você me lembrou quem eu era.

Eu morava na cidade que você ajudou a construir, Oscar, mas nunca tinha te visto – nunca tinha visto a monumentalidade da sua obra até estar lá longe, sozinha no mundo pela primeira vez, e te ouvir falar, entusiasmado como se fosse ontem, do telefonema do calculista que te acordou no meio da noite: Oscar, encontrei!, achei a tangente que vai tornar possível a cúpula da Câmara!

Eu morava na cidade que você ajudou a construir e até então vivia como se a cúpula da Câmara e os arcos da Catedral, concreto armado desafiando as leis da gravidade, fossem a coisa mais normal do mundo.Eu te vi pela primeira vez, Oscar, e nunca mais te esqueci. Às vezes me divirto em perguntar pras pessoas como é possível a rampa externa do Museu – e aí acontece: elas te veem também.Você me ensinou sobre arquitetura, sobre pertencimento e sobre amar a vida.

Obrigada, Oscar.

Bora?
Eu tive a sorte de receber essa triste notícia da voz acolhedora do meu amigo Zeca, nesta matéria imperdível da rádio Câmara. Muito vai ser dito e redito sobre esse cara a partir de hoje, mas tenho dúvidas se vamos ouvir algo tão pra cima quanto essa matéria – que tem como fundo musical o samba que Oscar compôs recentemente com o enfermeiro dele. O título: “Tranquilo com a vida”.

  • Eu fazia algumas restrições ao cara, mas era um gênio e Brasília sem ele não teria sido… é fato!

  • Olímpio Cruz Neto

    Carolzinha, escrevi sobre essa coisa de pertencer a Brasília ontem (http://olicruz.wordpress.com/2012/12/06/oscar-niemeyer-104/). Mais ou menos como você, percebi que a gente só se dá conta disso quando vai para fora. Muito comovente o texto. Beijocas.

  • Agora, nossa missão, a das pessoas que gostam de Brasília, é lutar (de verdade) pela preservação da obra deste senhor e do amigo dele, o Lucio Costa. E isso vai muito além das manifestações virtuais, dos discursos acalorados e de fotinhas bonitinhas no Instagram.

    • E vai muito alem tambem de ficar lutando pela preservação de projetos que foram feitos errados na concepção, estao ultrapassados, nao remetem sequer a uma origem historica e nao têm fucnionalidade. Acho que descaso nao pode ser motivo para botarem tudo no mesmo balaio. Ta cheio de coisa errada na cidade, fora de realidade, e que por conta de merda de regra de tombamento ninguém mexe.

      No geral, concordo com o tombamento, ainda mais com essa especulação imobiliária horrivel que existe aqui e ja devirtuou varios setores que originalmente tinham outra função.

      Acho que manifestações virtuais sao muito , mas muito importantes. Mais ate, as vezes, do que uam materia em jornal. Porque dependendo, pode repercurtir mais. Acho que cada um deve ajudar como pode. Textos e fotos publicadas nas redes sao uma ferramenta muito importante. As vezes mais efeicientes do que piquetezinhos ou frases de efeito.

      Façamos nossa parte jutnos. Cada um com a que lhe cabe.

      Abraços.

  • Que coisa linda achar o seu blog, carol! Eu aqui do outro lado do mundo me sinto como você, hoje. A arte do Niemeyer também passava despercebida por mim, às vezes em Brasília. Na faculdade aprendi a conhecer o arquiteto e a apreciar sua leveza de espírito e caráter.

  • Nina

    belo texto, carol! me emocionei!
    que lindo seria se todos vissem Niemeyer com esse olhar desarmado, e assim o vislumbrassem e o êxtase faria o seu papel em seguida…
    🙂

  • A gente que nasceu e cresceu em Brasilia, como voce disse, aprendeu ou se acostumou a ver esses predios e traços todos como algo comum ou nem assim tão impressionante, ne? Precisa as vezes sair daqui para entender melhor a dimensão e a diferenciação dessa cidade completamente anacrônica. Tão anacrônica, aliás, que até comercial futurista lá da Finlândia foi feito por aqui. e que todos os guias de turismo, em todos os idiomas destacam como uma obra monumental, ousada e moderna. às vezes moderna demais, é fato. Mas é uma cidade linda, diferente sim (paulistas e outros forasteiros demoram a se adaptar aos largos espaços, ao céu aberto e à falta de pessoas circulando nas ruas), mas nem por isso menos querida, amavel e aconchegante. Amo essa minha cidade. E ela so existe desse jeito por conta desse camarada aí do seu texto. 🙂

    Beijocas