Desde que entrei em fadiga de opiniões, inclusive das minhas, não apareço muito por aqui. Voltei para tentar organizar a bagunça que se instala na minha cabeça neste fim de ano.
Ontem, soube que duas pessoas conhecidas, legais, gente finas, bem educadas, que dançam nas mesmas festinhas que eu, são olavistas. E, depois de tanto espanto e horror acumulados nesses últimos dois anos, descobri que ainda sou capaz de me espantar e me horrorizar com o fato de que:
- nesta época em que vivemos, existe olavismo.
- existem olavistas.
- seres humanos comuns conseguem ser olavistas.
Não vou explicar olavismo aqui, basta dar um google pra ver que o guru da área é aquele ser aficcionado por cu, preconceito, achincalhamento, armas e mentiras bizarras de todo tipo travestidas de teoria da conspiração, incluindo terra plana. Um adorador da burrice e da escrotidão, como uma irmã bem definiu (crianças, saiam da sala).
Não sei se os olavistas são necessariamente bolsonaristas, e vice-versa, mas as duas coisas se misturam por serem muito parecidas entre si. E pelo fato da bizarrice perversa do bolsonarismo ter na bizarrice perversa do olavismo a sua inspiração maior.
Voltando à bagunça da minha cabeça: ela, que não é tão incomum, costuma se agravar em épocas natalinas onde o lema é relevar as diferenças e urrú, vamos todos se abraçar num grande trenzinho de esquerdopatas e fascistas. A polarização cria essa ilusão, de que existe só um ou outro. Claro que não. Como em todas as áreas da vida, a matiz política tem mil cores e gradações.
Por isso, discordar entre esquerda e direita é SO last year. Nada contra a pessoa, apenas contra sua visão de mundo. Disseram que conservador é diferente de retrógrado, e eu acreditei. Esse assunto, portanto, é macio e doce como rabanada.
Agora… Olavista? Bolsonarista? Aí temos um limite diferente e intransponível. Adoradores da burrice violenta e da desumanidade não dá, vocês hão de concordar comigo. E se alguém aqui responder com “E O LULA?”, eu vou dizer que não sei, nunca mais nos falamos, liga você pra ele.
Nesse tempo de extremos, as pessoas estão revelando suas opiniões sem vergonha alguma, e isso tem feiura e dor, mas uma certa utilidade. Serve para trazer verdade às relações e dar maior eficiência à dedicação do nosso tempo.
Cristãos que falam em Deus o tempo inteiro e apoiam um cara que justifica tortura, adora arma e é cruel com excluídos? Passo. Gente que fala em energia, em amor, em natureza-yoga-cristal e apoia a encarnação da perversão violenta e da baixaria em todos os níveis? Não existe “mas é que” pra isso. Passo. E não estou falando nem em competência, hein, essa parte fica para o próximo Natal.
Agora que consegui separar o salpicão da uva-passa dentro da cabeça, queria desejar que, em 2020, você seja humano e dedique seu tempo a pessoas humanas. A quem se horroriza com o feminicídio e o machismo, não com o feminismo. A quem se incomoda com a devastação do meio ambiente, não com pirralhas que se preocupam com ele. A quem se parece mais com o Jesus que adora, e não com aqueles que o mataram.
Que vivamos a diferença, mas com limites, caso contrário não é possível. Que você saiba separar a diferença conciliável da inconciliável, porque cada caso é um caso, e se afastar nem sempre é a melhor solução – boa sorte com essa balança.
Feliz Natal e continue se horrorizando em 2020, mas acima de tudo: ame, abrace, beije, transe, olhe nos olhos. Foque no possível, faça diferença na vida de uma pessoa. Nosso micro-universo é enorme e importante.