O que será do Grande Sertão sem as veredas?
Em 28 de novembro de 2017 por Carolina Nogueira
A literatura tem essa capacidade: de fincar na sua memória paisagens que você nunca visitou. Assim que pouco importam os fatos – pra mim, existe a mansão manauara decadente no meio da floresta do Milton Hatoum, existe o bairro tão pobre e tão vivo da Nápoles da Elena Ferrante, sei tudo sobre a Lagos animada e quente da Chimamanda, ainda viverei pra encontrar a caverna de orquídeas onde Nando e Francisca finalmente se encontram no Quarup do Antônio Callado. Minha tristeza, de uns dias pra cá, é ir perdendo a esperança de conhecer a maravilha das noites estreladas e das belezas simples do Grande Sertão: Veredas do Guimarães Rosa.
Foi a turma da Comova que me deu essa má notícia, falando da reportagem transmídia tão linda financiada pela WWF Brasil. Grande Sertão é o resultado de uma viagem de dois mil quilômetros entre o norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia, com a missão de registrar a paisagem eternizada na obra clássica de Guimarães Rosa. Mas no lugar dos rios e matas que servem de paisagem para esta história de amor, amizade e companheirismo, a equipe do filme Grande Sertão encontrou desmatamento, queimadas e devastação. Lindamente registradas em imagens e depoimentos, o filme conta ainda, no caminho, histórias de resistência e cooperativismo – projetos incentivados pela WWF que aposta em cooperativas de culturas tradicionais para tentar conter o conceito avassalador de progresso do agronegócio.
A WWF realiza amanhã na Cervejaria Criolina um evento para marcar o lançamento do filme e da narrativa transmídia que trazem esse alerta – e para celebrar o sertão. Além da projeção do filme e da exposição das fotos lindas dessa jornada, vai rolar sessão do Forró de Vitrola do incrível Cacai Nunes e uma feirinha com produtos das cooperativas. Tem até cerveja com sabores do Cerrado.
Produtor-executivo do projeto, Gustavo Amora espera que filme e reportagem possam deixar em cada um que assistir o amor pelo sertão, que o próprio Guimarães Rosa recebeu de longe. “Curioso que o próprio Guimarães recebeu estrelas, árvores e riachos de presente pelas palavras do pai dele, que escrevia lindas cartas contando o dia-a-dia do sertão pro filho – que morava em Paris quando deu vida àquela paisagem nas páginas de Grande Sertão: Veredas. Então essa narrativa pode ser uma carta nossa para as novas gerações, para avisar que este paraíso está a perigo”, ressalta Amora.
A gente vai se emocionar, certeza. Mas vai se divertir, também.
Bora?
Grande Sertão + Forró de Vitrola
Lançamento do filme realizado pela Comova para a WWF e festa com Forró de Vitrola do Cacai Nunes
Amanhã, 29/11, a partir das 20h
Cervejaria Criolina
SOF Sul Quadra 1 conjunto B lt. 6
Entrada gratuita