O público e o transporte

Em 27 de fevereiro de 2013 por Carolina Nogueira

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Complete aí a frase: quando seu carro quebra, você…

(   ) manda vir o carro extra do seguro
(   ) aciona o papai, escraviza o namorado, dá uma indireta pra amiga – enfim, transforma todo o afeto distribuído recentemente em uma rede de caronas
(   ) vai de táxi, cê sabe
(   ) vai de busão

Posso estar errada mas suspeito que, na cidade que conta um carro para cada dois habitantes, muita gente não costuma sequer considerar a última opção.

Pois eu tenho amigos queridos que me encorajam ao contrário. Mesmo podendo ter um carro só para eles (como manda a anatomia brasiliense: cabeça, corpo e rodas), eles fazem esta outra escolha todo santo dia. Eles vêm de ou moraram muito tempo em outras cidades que têm o transporte público como regra e não como exceção – e se acostumaram a ter a noção de público associada à de transporte. Não conseguem pensar num sem o outro.

Pra essas pessoas, o trajeto cotidiano é muito mais do que a simples movimentação entre dois pontos. No caminho, elas fazem questão de transitar pela cidade de verdade, pelas pessoas, pela vida. Para elas, se locomover não se resume a curtir a Kiss ou a Nova Brasil FM enquanto quase atropelam as pessoas na faixa porque estavam checando seus SMS. Ver as pessoas na rodoviária, sentir calor na parada, comer um pastel, ajudar uma senhora a subir no ônibus faz essa turma viver de fato numa cidade, e não apenas passar por ela.

Tem gente, inclusive, que faz disso com muita competência uma bandeira de luta.

Neste exato momento você vai dizer: mas o transporte público de Brasília é uma droga. Acontece que esse argumento eu só aceito de quem usa o dito cujo.

Semana passada meu carro tirou férias de mim (evite atropelar tocos de cimento, amigos, dói no bolso). E eu fui de busão. E no terceiro dia da semana acumulei knowhow suficiente para chegar ao trabalho em exatos 18 minutos.

Não estou com isso dizendo que o sistema é bom – ao contrário. Do pouquíssimo que sei, há muitos problemas – e o primeiro deles é a falta de informação. É ridículo como falta. É absurdo como falta.

Imprimir cartazes com os itinerários de todos os ônibus que passam em cada parada do DF não custaria o salário de um mês de muito primeiro escalão por aí. Três alunos da UnB desenvolveriam felizes um aplicativo com os trajetos – que funcionasse de verdade. A internet abrigaria de graça, em um blog que fosse, um mapa com todas as linhas de ônibus. Então por que será que nenhum governo jamais se dignou a fazer um sistema de informações decente sobre como pegar um ônibus de um ponto X a um ponto Y de Brasília, de um jeito simples e elucidativo?

Desconfio que seja justamente porque, assim como muitos de nós, quem manda nisso tudo nunca anda de ônibus. Julgamos o transporte público de Brasília assunto de adolescente ou de periferia – como se isso merecesse descaso – e foi assim que a situação chegou aí onde está.

Bora?
Enquanto a informação não chega, façamos old school: pergunta pro seu colega qual a melhor linha pra chegar até em casa e ouse – vá de busão.