Faz coisa de uns dois anos o pânico bateu na porta da Dani. Ela passou algum tempo sem conseguir ter rotina. Às vezes, ia embora de uma hora pra outra – do trabalho, de uma festa, de qualquer lugar. Eu não a via chorar muito – só conversar com um olhar meio perdido, se perguntando o que poderia estar acontecendo.
Ela me avisou que não dava mais pra escrever regularmente no blog – que eu tocasse o barco até ela estar bem. Eu não via nenhum sentido nisso aqui sem ela, mas eu toquei o barco – assumi mais do que nunca a missão de postar coisas legais, de fazer a vida seguir aqui. Até porque uma hora ela estar bem passou a ser pra mim uma promessa de futuro.
Eu nunca achei a Dani fechada demais, travada demais. A onda veio sem ninguém ver, e ela ficou mal – e a gente, aqui ao redor, desestabilizado por não saber o que fazer.
Acontece que ela soube – e ela soube muito bem. Ela construiu suas estratégias de superação. Olhou o monstro no fundo dos olhos. Se encontrou profunda, verdadeira e generosamente consigo mesma. Teve coragem de mudar comandos que a gente nem sabe que tem e que nos submetem ao olhar do outro. E se transformou em uma pessoa infinitamente melhor – não pra mim, que pra mim ela é a mesma Dani que eu sempre amei, mas pra ela mesma. Aprendi com ela que o pânico não faz mal aos outros, faz mal só a si.
Um belo dia, ela voltou pro blog, com um post comovente, que me pareceu cheio de sentido. No final do ano, ela mostrou como asas começavam a nascer nas cicatrizes que tudo tinha deixado. E eu nunca consegui explicar pra ela o quanto isso me fez feliz.
As asas cresceram, ela voou – e plantou tanta verdade nesses dois anos que, neste agosto seco de Brasília, seus frutos se esparramam por todos os lados. Seu talento virou um documentário incrível em fase de produção, virou experiências como a que ela vai compartilhar amanhã com vocês, e principalmente virou este livro incrível sobre a síndrome do pânico que ela desenvolveu com outros três amigos queridos que também percorreram este caminho.
Paúra é um livro que fala do pânico longe dos preconceitos, longe da visão médica, longe das elucubrações de causas e consequências – e bem perto, bem perto mesmo, do que há de mais humano em cada um de nós. Doze pessoas que já passaram por isso compartilham conosco a origem de suas angústias e como o pânico chegou, movimentou tudo e, com sorte, se foi.
Além da poesia das palavras contundentes e verdadeiras da Dani e da Lara Haje, nossa amiga muito amada, o livro traz a sensibilidade das fotos de José Maria Palmieri e as ilustrações bordadas de Dani Ktenas. Esses quatro, que passaram todos pela experiência do pânico, transformam na mais genuína poesia a verdade do que viveram – e provam definitivamente que todo ser humano é muito mais do que qualquer diagnóstico.
Bora?
Paúra – Um mergulho na síndrome do pânico
Noite de autógrafos e exposição das fotografias e bordados
Terça, dia 18 de agosto, das 18h às 22h
Beco da Grand Cru
412 sul, bloco B, loja 6
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