Papai Noel, luzinhas piscantes, neve artificial, pinheiros de plástico e carnaval. Isso mesmo, carnaval. Quem quebra a ordem natural das coisas é a Andaime Cia de Teatro, que promove hoje o bloco fora de época mais absurdo de todos os tempos: o Carnaval Silencioso.
Eles se concentram a partir das 19h no Beirute Norte e depois descem até o Pinella, na 408. Todo mundo fantasiado, mãozinhas pra cima, latinha de cerveja na mão. Um bloco como qualquer outro, não fosse o detalhe: a música só existe pra eles, que usam fones de ouvido.
Traduzindo: o DJ Oops, do Criolina, é responsável pelo set de músicas carnavalescas. Um transmissor de rádio é ligado, criando uma emissora temporária (FM 93.2), onde os foliões sintonizam seus aparelhos e dançam silenciosamente com seus headphones.
Se você ainda não conseguiu visualizar, assista a esse vídeo aqui, do primeiro Carnaval Silencioso, em 2011. Foi assistindo que consegui entender melhor essa história e me encantei por ela. Esse pessoal carnavalesco bailando pela tesourinha, rodopiando no meio do Beira, em silêncio (aparentemente) absoluto, é bom demais.
No evento divulgado no face, eles citam a Lei do Silêncio, dizendo que o bloco festeja com bom humor e ironia a lei que tem fechado o cerco contra a apresentação musical na cidade. “Não é um protesto porque a gente não levanta bandeira. É uma intervenção artística, mas não tem como não ser político”, diz Tatiana Bittar, 34 anos, da Andaime.
Ela conta que o bloco faz parte de uma série de ações da companhia de teatro, que integram o projeto Serpentes Que Fumam (SQF). Já teve de churrasco no Buraco do Tatu a piscina inflável no Eixo Monumental. O objetivo é ocupar a rua, além de mexer com você, te obrigar a sair da ordem.
O resultado, em mim, foi uma mistura de diversão e tristeza. A diversão veio com a festa, a criatividade bem humorada. Coisas assim me fazem lembrar que uma cidade sem artista na rua é uma cidade careta, sem poesia, entediantemente normal.
A tristeza veio com a provocação implícita no escracho. Enxerguei no silêncio justamente essa caretice entediante, que tem medo de catarse e se aborrece com música até no carnaval.
Imagino que muita gente deseja não só um carnaval silencioso, mas uma cidade inteira silenciosa. Grito, só no travesseiro. Música, só no pensamento. Eu, que tenho tentado ser cada vez menos careta e cada vez mais feliz, teria vontade de arrancar os fones de ouvido deles e pedir, peloamordedeus: divide a alegria comigo?
Bora?
Carnaval Silencioso
Hoje (19), concentração às 19h, no Beirute da 107 Norte
Depois o bloco segue para o Pinella, na 408 Norte
Leve seu rádio portátil, seu fone de ouvido e sua fantasia
Para os esquecidos, a organização vai distribuir 30 fones e algumas peças de fantasia
Foto: Maira Zannon/Divulgação