Pela primeira vez na vida, tirei férias do trabalho e não programei nenhuma viagem para fora da minha zona de conforto. Uma semana foi destinada a ficar aqui mesmo, em Brasília, sem compromisso. Os 12 dias restantes foram dedicados ao silêncio: uma casa no meio do mato, entre São Jorge e Alto Paraíso.
Nesse lugar, sem internet, televisão e nenhum sinal de civilização ao redor, o único programa era não ter programa algum. A cachoeira estava ali, pertinho, mas só se desse vontade. Comer, dormir, ler, acordar – as coisas aconteciam na hora perfeita da vontade e não da necessidade.
Essas férias me fizeram lembrar de uma amiga especial que me apresentou outro paraíso, no litoral de Alagoas, e costuma dizer: “O fuso deste lugar respeita o nosso corpo. A gente faz tudo na hora que ele pede”. Algo tão simples e tão raro na rotina insana de todos nós: dormir quando sentir sono; acordar quando estiver refeito; comer quando estiver com fome.
Adoro conhecer lugares novos, me surpreender, aprender. Visitar pontos turísticos, acordar com mil possibilidades de programas – isso também é ótimo, cada coisa no seu tempo. Mas esses 12 dias na Chapada me fizeram dar mais valor, mais ainda do que sempre dei, ao ato de “não fazer nada”.
Coloquei aspas aí porque é uma bobagem acreditar que, na pausa, você faz menos do que em uma maratona de compromissos e agitos. Observar pássaros, beija-flores, plantas, nuvens; assistir a uma incrível tempestade de raios no sábado à noite; brincar com bichos por horas a fio – isso pode ser um programa meio haribô demais, eu sei, mas estive mais presente nessas horas e nesses dias do que em mil outros abarrotados de agitação.
De brinde, consegui ler dois livros e começar um terceiro, um recorde do mundo moderno facebookiano, no qual a gente está sempre cansado de fazer muita coisa desimportante. Fora o café quentinho de manhã cedo, a preguiça depois do almoço, as boas conversas, o olhar no olho, o tempo para ouvir, para falar e para pensar.
Não fazer nada pode ser muito, nas férias ou não. Você nunca percebeu uma certa ansiedade nas pessoas em listar todas as atividades que elas cumprem ao longo do dia, numa tentativa de autoelogio?
Não estou falando dos que estão batalhando no emprego ou em casa, resolvendo problemas reais. Estou me referindo aos estressados por opção: os que fazem mil cursos, mil viagens, vão a mil eventos e compromissos irrecusáveis para se lamuriar que a vida é uma loucura. Falo também dos que pensam fazer muito, mas na verdade fazem tão pouco, porque nunca estão presentes no presente. Sempre esperam ter mais tempo para o essencial, mas nunca têm.
Eu já fui essa pessoa, e ainda sou ela às vezes. Mas espero ser cada vez menos e menos.
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