De tudo o que aconteceu na minha vida por causa dos dois livros que publiquei, o mais incrível é quando alguém me fala alguma coisa sobre eles que eu não sabia, que eu não previ, que eu não antecipei. São meus filhos tendo vida própria – e isso é muito emocionante. Aconteceu quando A Rua de Todo Mundo foi adotada por uma escola inclusiva – que viu naquele desfile divertido de culturas diferentes uma maneira de valorizar a diferença, pra além de qualquer discurso politicamente correto.

Aconteceu de novo quando a Biblioteca Infantil e Escolinha de Criatividade da 104/304 Sul me chamou pra fazer um sarau por lá. A educadora me disse: “estamos trabalhando a questão da identidade com as crianças, usando seus livros. Primeiro a identidade individual, com A História de Você, depois a inclusão da criança na cultura, a identidade cultural, com A Rua de Todo Mundo. Fiquei passada. Estou passada até hoje. Eu nunca tinha pensado que meus dois livros tratam sobre passar a existir no mundo.

Não que seja exatamente uma surpresa, porque é disso mesmo que eu tenho tratado cada santa vez que eu peguei numa caneta: eu escrevo e desenho para existir. Para entender o que é existir. Mas juro que não tinha visto ainda essa coerência, essa linha condutora nos meus dois livros.

Então preciso dizer: estou muito entusiasmada pra esse papo que acontece na quinta-feira de noite. Fiquei ainda mais entusiasmada quando visitei rapidamente os trabalhos que as crianças têm feito, trabalhando neste tema.

Essa escolinha é um sonho, uma alegria, um encanto. E é pública. E ela existe bonitinha, no mesmo lugar, do mesmo jeitinho, há décadas, desde quase que a construção de Brasília.  As professoras contam todas pimponas que o Roger Mello, ilustrador brasiliense que ganhou o Hans Christian Andersen, estudou por lá quando era pequenininho. Ou seja: se você tem um filhote de até dez anos com talento criativo, aproveita o sarau pra conhecer a escolinha e inscrever seus pequenos.

Agora, se é você que está querendo aprimorar seus talentos pra expressar sua arte pro mundo, aproveito pra deixar uma dica imperdível. A Flávia Bonfim, baiana porreta que produz o Festival de Ilustração e Literatura Expandido, em Salvador, vem a Brasília conduzir três workshops incríveis de bordado na Par de Ideias: sashiko, um bordado reparativo e decorativo muito lindo e útil, tenango, um bordado mexicano preenchido, lindo e colorido e pensamiento, outra técnica mexicana, muito linda e delicada. Já fiquei imaginando um bordado desse em cima de um desenho ou de uma foto, e já fiquei querendo começar um novo livro.

Se você tá todo criativão que nem eu, bora. Fofocar sobre meus livros e, depois, aprender a bordar.