Há quinze anos, a professora de música brasiliense Rejane Pacheco deu um passo improvável: ela ousou levar a música erudita e clássica às crianças e jovens da Cidade Estrutural – na época, uma favela instalada dentro de um lixão.

Movida pelo incômodo amor por uma arte considerada elitista, ela desrespeitou solenemente as barreiras que dificultam o acesso da gente pobre aos espetáculos, às escolas de música com suas exigências incompatíveis com a vida de quem precisa ganhar o pão, aos instrumentos musicais caros demais – e ousou criar uma instituição que faz da música instrumento de educação, de ressocialização, geração de renda e inclusão social.

Nesses quinze anos, mais de 2,6 mil alunos foram atendidos pelo Instituto Reciclando Sons. O resultado é uma orquestra que fez morrer de amores todos os meus amigos que tiveram a sorte de topar com seus concertos por aí.

De tanto ouvir falar do Reciclando os Sons pelo meu amigo Beto, fui conversar com a Rejane – e descobri que a gente tem uma grande oportunidade de conhecer esse trabalho neste final de semana.

As crianças do Instituto estão participando desde quarta-feira de um workshop internacional realizado em conjunto com a Embaixada da Áustria. Uma oportunidade construída a várias mãos – com a Embaixada e com uma iniciativa de música popular da Venezuela chamada El Sistema, tudo com apoio do Banco Mundial – de dar a esses jovens e seus professores ferramentas técnicas e interpretativas que os impulsione ainda mais longe.

Este sábado, a aula que eles terão no departamento de Música da UnB será aberta ao público. Quem já assistiu disse que é uma oportunidade imperdível de se emocionar com a força de um projeto e o talento que surge em quem tem a mínima oportunidade.

No domingo, tem outra sessão lá na sede do Instituto, na própria Cidade Estrutural – que também seria uma sessão aberta se a sede do Instituto tivesse uma estrutura bacana. Assunto, aliás, que está em pauta – se você se emocionou com a história da Rejane e dessas crianças incríveis, não deixe de conhecer a campanha que eles estão criando pra levar recursos pra uma nova sede.