Herança árabe em Brasília

Em 23 de abril de 2018 por Lara Haje

De origem sírio-libanesa por parte de pai – Haje significa aquele que já foi a Meca -, cresci comendo pão sírio com chancliche (tipo de queijo temperado) no café da manhã em vez de pão francês com manteiga. Para mim, comida especial sempre foi malfuf (charuto de folha de uva) e quibe grelhado com muita manteiga derretida em cima na casa das minhas tias.

É do alto da autoridade de quem come quibe e esfiha toda semana – tão especialista como quem não fica sem arroz e feijão – que digo: abriu há mais ou menos um mês na cidade uma loja de doces árabes fantástica. É a Arab Sweets Express,  na 413 norte. Tem o tradicional baklawa (camadas de massa folhada com recheio de nozes), canudos de pistache e castanha de caju, ninhos de pistache, damasco, figo, amêndoas. Todos são frescos, crocantes, na textura perfeita, feitos com melado e água de rosas ou de flor de laranjeira, e não com açúcar, como muita enganação que a gente vê por aí.

Peça, na loja, um café para acompanhar: Maruan, o dono do lugar, serve um da marca Arbor, delicioso, numa “xicrinha” árabe fofa. Ele também aceita encomendas para festas e casamentos – o que me parece uma ótima ideia, pois, além de super saborosos, os doces são todos lindos e refinados. Uma caixinha (vendida na loja) cheia deles também pode ser um presente fino.

Maruan é filho de D. Karine, libanesa dona do Kafta da Mama, que fica na entrada da quadra 112 sul. Lá sugiro pedir um duplo: kafta e queijo coalho derretido no pão sírio, feito na grelha. Salivei. Quem não come carne vá de sanduíche de falafel (bolinhos de grão de bico temperados), porque D. Karine também é expert neles.

Outro lugar bom e barato para comer falafel é a lanchonete Damascus, na 413 sul, aberta por um casal de imigrantes sírios, o Ammar e a Yasmim, há uns dois anos, quando vieram para o país, fugindo da guerra. Yasmin deixa claro que a culinária servida lá é síria. O que chamamos de comida árabe, no Brasil, em geral refere-se à culinária sírio-libanesa, e não a de outros países da região. Embora muitos pratos sejam parecidos, com os mesmos ingredientes, a diferença fica sobretudo por conta do tempero.

Também imigrante síria, a Bassima está no Brasil há uns cinco anos e faz comida árabe por encomenda, além de vender uma vez por semana no Tribunal Regional Federal e ocasionalmente no evento Mercadinho, do Brasília Shopping. Provei as pastas homus (de grão de bico) e babaganuche (de berinjela) na casa de uma amiga, e estavam ótimas.

Não dá pra não falar também da quase rede (e nem por isso menos gostosa) Marzuk, que, além das lojas (106 sul e 708 norte), tem um ponto de venda num posto de gasolina do Plano (413 sul). Além de a esfiha de carne ser uma delícia, a versão de escarola com castanhas não deixa nada a desejar. Recomento também o arroz com lentilhas, atolado de cebola frita. Os preços são um pouco mais salgados, mas eles oferecem a praticidade de oferecer vários pratos na vitrine, prontos para levar, e de possibilitar a encomenda de produtos pela internet.

Mas, se for para comer esfiha de coalhada, sugiro ir à mercearia Califa, aberta por uma família de origem libanesa há uns 20 anos da 108 sul. Leia de novo: lá, compre a de coalhada com cebola; é imbatível. Na mercearia também é possível comprar ingredientes como o tempero zattar e trigo grosso, para fazer com grão de bico e frango – um dos pratos mais saborosos da culinária árabe, na minha opinião (gugle para receita). Também cheio de cebola frita.

Se você não gosta de cebola, talvez seja o caso de desistir da comida sírio-libanesa tradicional. Ou de provar de novo e começar um caso de amor com elas!

(Foto: Arab Sweets Express/Felipe Bastos)

Bora?

Arab Sweets Express
413 Norte

Kafta da Mama
Entrada da quadra residencial 112 Sul

Damascus
413 sul

Bassima
(61) 98338-8025

Marzuk
708 Norte, 106 Sul e no posto de gasolina da 413 Sul

Califa
108 sul


  • Anderson Falcão

    Delícia essa lista! Só senti falta do nosso querido e resistente Salim (107n). Ele é mestre!

    • Lara Haje

      Não conheço, Anderson! Vou lá provar! Obrigada!

  • Daniela Cadena Henrique de Ara

    Os doces são mesmo divinosssss.