Como um café aumentou Brasília

Em 13 de abril de 2018 por Carolina Nogueira

Descobrir a Casa Quilha ontem me fez pensar em como a cidade é transformada por gente que nem imagina que está fazendo isso. Gente que pensa que está só transformando a si mesmo – mas num movimento profundo e verdadeiro acaba se transbordando e movimentando todo um universo ao seu redor.

A história começa quando a Lu e o amigo dela, Ricardo Theodoro, decidem procurar um lugar pras oficinas deles: ela precisa de espaço pra exercitar a mineirice dela em costuras e compotas e ele, pra fazer a marcenaria dele em paz, sem incomodar os vizinhos com o barulho. Chegaram num lugar bacana, em meio às oficinas da Asa Norte, na 716.

Na hora de colocar na ponta do lápis os custos pra manter o lugar, surgiu a ideia de abrir um café, como jeito de financiar o empreendimento. Mas no meio do projeto um desafio: o lugar bacana pra oficina é no meio das retíficas de carro, lembra? E pro café, será que funciona?

Com a cara e com a coragem, com a oficina fofa da Lu se desenhando na sobreloja, a marcenaria Uso no subsolo e o café no meio, surgiu a Casa Quilha. Como diria a própria Lu, “um café fofo numa localização meio bizarra”.

Verdade: parece mesmo estranho encontrar uma coisa tão fofa – com drinks e guloseimas tão deliciosas, que ainda por cima vende os móveis incríveis da Uso e mais objetos lindos de fotógrafos e ceramistas da cidade – encrustada no meio do setor de oficinas da Asa Norte. Você vem vindo naquela sequência interminável de oficinas, retíficas e academias de maromba e de repente: um café fofo.

Mas o estranhamento dura só até você atravessar o café e se deparar com o deck, plantado no meio de um jardim, debaixo de luzinhas bucólicas. Vizinhos andando com cachorros, crianças brincando, um campinho de futebol, uns pilotis gostosos. Eu jamais poderia imaginar de atrás daquele prédio existisse tanta lindeza.

“A gente precisava de lugar pra uma oficina, foi isso que pesou. Mas de repente, vimos que poderia ser ótimo convidar as pessoas pra descobrir que existe vida naquele lugar”, conta a Lu. E ela tem toda razão.

Pra mim, a decisão de instalar um café fofo numa localização insólita fez a gente descobrir um pedaço de Asa Norte que nenhum de nós desconfiava que existia. Que a gente até podia olhar com certa desconfiança ou preconceito. Foi assim que, pra mim, a Casa Quilha aumentou Brasília.

Bora?

Casa Quilha
SCLRN 716, Bloco F, loja 47 (como chegar)
Segunda a sexta de 13h às 20h (quinta até às 22h), sábado de 9h às 14h