Quando você mora fora e começa a conviver com os hábitos locais, há aqueles com que você se identifica de cara, aqueles com as quais você se acostuma com o passar do tempo e aqueles outros que você jura que não vai incorporar nunca. Eu era assim com as charcuteries.
É assim que os franceses chamam toda suas receitas a base de embutidos – que por lá são tão famosas e celebradas quanto os mundialmente conhecidos queijos. Eu demorei longos anos para me entregar a esses patês feitos de miúdos, gordura e sabe-se lá o que mais dentro. Durante muito tempo resisti às ofertas dos pratos feíssimos que desfilavam pela mesa na hora da entrada: terrines, patês, rillettes. Até que… claro, me apaixonei.
Desde que voltei, andava meio órfã dessa parte da culinária francesa. Ao contrário dos pães e sobremesas, assuntos em que o mercado brasiliense não nos deixa na mão, as charcuteries exigem algo de artesanal, de savoir-faire, que me parecia quase impossível de se encontrar por aqui.
Ledo engano. Outro dia, na casa de amigos, esbarrei no profissionalismo e na simpatia da proposta do Realejo, invenção e obra do artesão charcutier Eduardo Sedelmaier.
Ele mesmo prepara cada um dos patês de aves confitadas com pistache que entrega na sua casa dentro de uma mini-marmita toda charmosa. O sabor não fica atrás dos melhores confits que provei na França. No cardápio, há ainda o patê campestre, coalhada seca e uma geleia de tangerina do cerrado que juram ser um pecado ambulante.
Aviso aos acostumados com os enlatados: patê francês não é pastinha homogênea de supermercado, não. É comida de verdade. Tudo bem se você torcer o nariz por longos anos ainda. Sobra mais pra gente.
Bora?
O Realejo
Patês (R$ 35 e R$ 24), coalhada seca de leite de cabra (R$ 18), geleia de tangerina (R$ 18)
Pedidos pelo telefone 9974-3899
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