Fazer essa foto foi, para mim, um símbolo deste ano. Vou te explicar do começo.
Todos os dias, eu passava por essa frase, pichada em uma parede do Buraco do Tatu, no centro de Brasília: “Me ensina a te esquecer”, acompanhada de um ponto de exclamação, para deixar óbvia a urgência que a frase grita.
Eu passava por essa frase, ou essa frase passava por mim, e começava a viajar na história por trás dela. No casal, no motivo do fim, na contradição de quem diz querer apagar alguém da sua vida e marca uma parede com tinta preta para evitar que isso aconteça.
Um belo dia o governo começa a pintar de branco as paredes do centro da cidade. Outra viagem: todos os dias eu passava em frente à pichação na esperança de pegar o exato momento em que a frase estaria sendo apagada. Imaginava as fotos, o enquadramento, a moldura. Já estava tudo planejado, faltava só o improvável: eu estar lá na hora certa.
Ao longo de semanas, todas as paredes foram pintadas, menos aquela. A frase continuava lá, resistindo ao esquecimento, e eu me toquei que o momento perfeito não aconteceria sem a minha ajuda. Liguei para uma amiga, falei “preciso de uma modelo para uma intervenção fotográfica”, achei que ela riria da minha cara, mas topou na hora.
E fomos. Nós, um galão de tinta branca e um rolo. Ela pintando, eu fotografando, e a imagem que eu idealizei se materializou: uma sequência invertida, em que a frase, ao invés de desaparecer, se revela. Quanto mais se tenta apagar, mais o sentimento se prende à parede.
Ok, mas por que eu estou te contando essa minha viagem astral? Porque, seguindo a tradição de ficar mais reflexiva nesta época do ano, eu queria compartilhar esse desejo com vocês, que fizeram a gentileza de nunca nos deixar falando sozinha aqui. O desejo de não esquecer.
Mais do que esquecer “alguém”, estamos o tempo inteiro tentando esquecer “algo”. Por sorte, este foi um ano em que eu não segui o fluxo normal da nossa vida moderna, de atropelar os acontecimentos, de fingir que tudo está bem resolvido, de não enfrentar questões mais profundas. E uma das várias lições que 2013 me deu foi a de não tentar apagar momentos ruins – conviver bem com eles é a minha meta atual.
Outra coisa boa de fazer essa foto foi perder a vergonha. Eu, um ser racional e objetivo, me permitir viajar em uma intervenção urbana? É isso mesmo que eu quero para 2014: não reprimir a minha criatividade, por mais boba que ela pareça. E não me esquecer de quem eu sou.
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