Eu fui uma criança que vivia no mundo da lua. Falava sozinha, me perdia em shopping – aquele modelinho. Quando fui crescendo, fui aos poucos (bem aos poucos, tipo até hoje) entrando no mundo real, dando conta da escola, depois da faculdade, trabalho, vida de adulta. Fui correndo atrás de integrar as regras desse mundo doido aí fora: o que pode e o que não pode, onde, quando, como. Boleto, diploma, prazo, reunião. Aqui estou. Olhando daí de fora, pareço bem normalzinha.
Acontece que tem horas na vida, tem sentimentos na gente, que a vida prática não dá conta. Tem horas que eu sinto que preciso pensar de outro jeito, me expressar de outra maneira, encontrar janelas pra experimentar outras coisas que escapem pelas frestas da minha planilha de gastos, da minha lista de compras.
Em mim, acontece sempre quando sento na frente de um papel pra desenhar – mas acho que, pra você, pode bater em outro momento: na hora de falar em público, ou expressar seu sentimentos. Eu fico ali na luta pra tirar um monstro olhudo de dentro de mim e sinto que as estratégias que fui desenvolvendo na vida não resolvem nada. Ao contrário: atrapalham. Não tem to-do-list, não tem coach que ajude. Não tem curso de proporção no desenho moderno que me salve. Nada.
Foi quando eu entendi que a menina no mundo da lua, coitada, aterrizou demais. E tá precisando se perder num shopping por aí.
Há algum tempo tenho tido a sorte de encontros que têm aos poucos me levado nesse sentido. O curso que fiz com a Anabella foi a primeira portinha aberta. Mês passado, de impulso, fui parar na Filexpandido, em Salvador. E agora, por algum motivo, me deu uma vontade irresistível de fazer esse curso Ambulantes Imaginários, que Henrique Eira e Isabella Brandalise realizam semana que vem.
Não vou ficar aqui falando do curso que eu não fiz ainda – dá uma olhada na ementa e vê se você embarca na mesma viagem que eu. Só reproduzo o que os dois professores me responderam quando perguntei se, mais que oferecer respostas, o curso era um criador de novas perguntas:
“Isso. O design especulativo vai além da tradicional abordagem de design como solução de problemas, e tem o objetivo de gerar discussões sobre possibilidades de realidades que vão além da provável. Por meio de artefatos e cenários provocativos, instiga um debate crítico sobre o presente e cursos de ação para futuros desejáveis. Assim, os projetos de design especulativo, embora também possam ser utilizados como ferramenta de pesquisa, são geralmente pensados como uma construção de uma narrativa que levanta debates políticos e poéticos, sem a intenção de serem produzidos no mercado de fato. Exemplos de projetos seriam a criação de fuso horários diferentes dentro de uma mesma cidade para lidar com engarrafamentos, ou de uma arma que atira balas de lágrimas de uma estudante que sofre racismo estudando fora, ou de um sistema que possibilitaria humanos darem a luz a animais em extinção.”
Futuros desejáveis, debates políticos e poéticos… “Hmm”, diz a menina no mundo da lua. “Acho que estou precisando disso”.
PS: Falando em curso com a Anabella, ela está topando voltar a Brasília pra fazer a segunda parte da formação dela, e de repente fazer outra turma do curso que a gente já teve. Alguém aí a fim? Me manda um email pra gente organizar a turma!
Foto: @elzinhadeabreu, durante a @filexpandido, que foi demais.
Bora?
Curso Ambulantes Imaginários
Sáb e dom., 10 e 11 de junho, das 14h às 19h
Espaço D – CLS 115, Bloco A, loja 30, Brasília/DF
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Déborah Nogueira