A tirar pelo descaso de quem foi eleito e de quem manda, o tombamento de Brasília já não vale grande coisa. É puxadinho daqui, destruição dali, e lá se vai (não sei pra onde) o projeto modernista e romântico da capital. Lindo e ingênuo como todo romântico.
Se ninguém consegue fazer cumprir o tombamento da cidade, deve ser porque ela é grande demais, né. Ninguém consegue manter a ordem de uma ponta a outra do Eixão, é pedir muito. Então venho por meio desta propor ao Iphan e ao GDF mais liberdade poética ao tombamento. Quem sabe eles dão conta?
Pelo tombamento do bom gosto! Quem transformar um prédio modernista num banheiro de quinta terá de pagar multa em prol de uma escola, a ser construída, de ensino obrigatório da disciplina: “O que é patrimônio público? O que é Brasília? O que sou eu?”.
A regra é retroativa, ou seja, os responsáveis por aquele portal greco-romano na entrada do Pontão não irão se safar dessa.
Pelo tombamento do bom senso! Quem desfigurar o gramado central da Esplanada com obras faraônicas, quem colocar uma cerca em volta do Congresso como se ali fosse o quintal de sua casa, quem autorizar uma propaganda bizarra de refrigerante ser o monumento de boas-vindas à cidade: pena de 10 anos de férias em outro planeta. Qualquer um, menos a Terra.
Por fim, pelo tombamento do bom humor. Quem reclamar de Brasília, do trabalho, da vida, por mais de 7 dias consecutivos e não fizer menção a qualquer mudança será enviado para outra cidade, ou para outro trabalho, ou para outra vida. O objetivo é que a perspectiva lhe inspire alguma coisa.
É isso. Vamos rir das nossas desgraças, mas sem deixar de levá-las a sério.
Foto: Coletivo Transverso.
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pedernique
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Renata Sene
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Vanessa