Acabou!

Em 28 de outubro de 2014 por Dani Cronemberger

alien

Hoje deu vontade de festejar, de sair pelas ruas oferecendo abraços grátis, coxinhas gourmet e caviar da promoção. Festejar não o resultado da votação, mas algo milhões, zilhões de vezes melhor: o fim das eleições.

Finalmente, poderemos discutir coisas mais importantes do que o gaguejo de uma e o olhar vidrado do outro. Vamos nos reconciliar ao som do Hino Nacional tocado pela Timbalada e, num grande abraço coletivo, voltaremos a brigar por futebol, que é o que interessa neste país.

Chegaremos em casa correndo para abrir o facebook e postar a foto do prato do almoço, numa felicidade quase melancólica: “Época boa aquela, quando eu curtia o purê de batata do meu amigo”.

E por falar em amigo, vamos esquecer, deletar da nossa memória esses meses deprimentes em que pudemos conhecer a visão de mundo de alguns amigos, aqueles que espumam ódio no canto (direito ou esquerdo) da boca. Era tão bom quando nos conhecíamos menos…

Uma vez que descobrimos que a superficialidade é essencial para a manutenção da vida social, vamos festejar, porque nada menos profundo do que um abraço embriagado de euforia. Porque quando olhamos lá no fundo, bem no fundo do estômago de alguém, dá pra ouvir a amargura gritando: Vida, vida, vida, vida bandida.

  • Rafaela Cyrino

    Realmente ainda tem muita água para rolar para que avancemos no terreno da democracia. Com o fim das eleições veio, no meu caso, o sabor amargo de me deparar com tanta agressividade, tanta crueldade, tanto desprezo pelos outros, tanto egoísmo, tanto preconceito. Não tenho palavras para exprimir a minha tristeza com a postagem de vídeos que segregam a nossa população, que disseminam o ódio e estimulam a intolerância, que demostram um desprezo pelo outro. É triste e inaceitável! Mas eu não deixo de sonhar, a cada dia, com um Brasil mais solidário, mais inclusivo, mais tolerante. …

  • Confesso que me incomodou ver escrito no post festejar fim das eleições. Sei o que está a ser comemorado: o fim da acidez nas relações interpessoais. Porém, como comemoro eleições, até para suco em estande de supermercado, e as palavras têm poder, não gosto de misturar a palavra fim com eleições. A peleja mais dura faz parte do processo, e a gente sai mais rico dele. É melhor que as desavenças ideológicas se escancarem, e acontecem no plano democrático. É só o primeiro passo. O próximo, é aprender a conviver menos figadalmente com as divergências, o que virá com o tempo, espero com muito otimismo. Seria melhor ainda, se o exercício da responsabilidade cidadã conseguisse ultrapassar estes acerbamentos verbais e se concentrasse em acompanhar a atuação dos governantes e representantes. E paraíso total, perceber que podemos amar uns aos outros, com algumas exceções…

  • Bom mesmo poder sair do tiroteio, ter mais paz e poder curtir o purê, a gata que adotou um monte de pintinhos e outras coisas amenas e gostosas da vida. Mas também foi bom sentir que além da troca de acusações raivosas, houve um envolvimento e interesse popular que há muito não havia numa campanha política. Otimista que sou, tenho esperança que esse interesse não termine aqui e que venha a se expressar numa maior participação de todos em criticar, cobrar e exigir as melhorias prometidas. Espero também que manifestemos nosso apoio às ações positivas da presidente e dos outros representantes que elegemos. Tudo indica que não vai ser fácil conseguir aprovar a fundamental reforma política, assim como outros projetos que contrariam interesses escusos de congressistas, mais comprometidos em agradar a grupos de poder do que em atender à sociedade.
    Adoro os textos de vocês, um grande abraço.