Um convite para Janta

Em 16 de novembro de 2017 por Carolina Nogueira

Me dei conta, na saída da peça Janta 2, domingo passado, que amadureci como público de teatro com o Grupo Liquidificador. Aprendi a ser parte, mais que audiência. Abracei o teatro como experiência e não como espetáculo.

Já expliquei isso antes: aqui, o texto não te é entregue, é construído com você. Qualquer barreira entre elenco e público é completamente desrespeitada – sim, o ator vai olhar nos seus olhos, vai falar com você (às vezes, pelado)(sdds, Kael). E, se nas minhas primeiras vezes, isso me desestabilizava, me confundia, agora eu apenas curto – e me entrego.

Janta 2 dá um passo a mais na interatividade: a gente literalmente janta junto com o Príncipe da Groenlândia, personagem principal deste quase-monólogo. Compartilhar o prato nos faz companheiros não só do Príncipe como dos nossos vizinhos de mesa.

O tema da Janta são conflitos de infância do personagem principal – marcada pelo questionamento de papeis de gênero, marcada pela violência onde deveria haver afeto. Mas como aqui o tema nunca é um só, vivi a experiência dessa peça como uma gigantesca reflexão sobre os protocolos sociais, sobre nossos modos de funcionamento tão automáticos. Enquadrados dentro de uma sala de jantar, pessoas que nunca se viram se tornam velhos amigos, numa conversa fluida ancorada em lugares-comuns: como vai?, quanto tempo!, não acredito que você veio!, você continua indo lá? Me deu quase vergonha desse nosso jeito de viver tão aleatório e automático. Saí de lá jurando nunca mais dizer: vamos marcar!

Mas essa foi a minha reflexão – que a gente se sente livre pra fazer porque as peças do Liquidificador são tão nossas quanto do Fernando Carvalho e da Fernanda Alpino, fundadores do grupo. Aqui as análises e reflexões, o impacto emocional que essa peça terá em você, é por sua conta e risco. É tudo nosso também.

Bora?

Janta2
Até 26/11, 20h
Setor Gráfico Núcleo Bandeirantes – Núcleo Bandeirante, DF
Ingressos R$30, por aqui