Minha amiga, sócia, companheira neste site, como vocês sabem, virou cineasta – e das grandes. E não escolhi esse adjetivo por causa das folhinhas de louro todas ali em cima da foto do cartaz do filme dela. É porque de fato o que ela faz como diretora é fazer nascer filmes vivos, que falam das dores coletivas da nossa sociedade – e faz isso mobilizando a gente poeticamente.
Nas manchetes de jornais de todos os dias, À Tona são estatísticas.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2018, o Brasil bateu recorde histórico de registros de estupros: um registro a cada três minutos. O número de feminicídios também subiu, chegando a três mulheres mortas por dia. Em 89% dos casos, o assassino é o companheiro ou ex-companheiro. Mulheres negras são 61% das vítimas.
Na tela do cinema, no entanto, a Dani nos lembrou serena e poeticamente que por trás desses números frios, há milhares de mulheres de verdade, como eu e você, mulheres que nós conhecemos, que sofrem essas agressões todos os dias. Ela ouviu quatro dessas mulheres reais. Internalizou suas cenas, diálogos, lembranças. Transformou todas elas numa personagem só, encarnada com tanta delicadeza pela Tainá Cary, num curta sensível e belo de perder o fôlego.
Hoje é o Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher. A partir de hoje, À Tona está disponível, aberto, no YouTube, pra todo mundo. Pra gente ver e discutir. Distribuir e divulgar. Olhar, sim, pra dor, mas também pras possibilidades de reconstrução. Que na metáfora linda do filme como na vida, passam sempre pelo apoio, pelo contato das nossas mãos umas nas outras.